No passado dia 22 de abril de 2016, tive o prazer de proferir uma comunicação no III CONGRESSO INTERNACIONAL DE
FILOSOFIA GREGA, organizado pela Sociedade Ibérica de Filosofia Grega, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A mesma procurou pensar uma possível relação existente entre a Alegoria da Caverna de Platão e a Sétima Arte; entre os prisioneiros e os espectadores de cinema.
Deixo aqui o resumo da mesma:
Apesar de o cinema, tal
como hoje o conhecemos, ter nascido apenas em 1895, com a invenção do
cinematógrafo pelos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, Platão parece ter
adivinhado, muitos séculos antes, algumas especificidades deste tipo de arte. No
Livro VII da obra A República, o
filósofo grego apresenta-nos uma caverna onde residem prisioneiros que
contemplam imagens projetadas por uma luz artificial, originária do fogo, na
parede. Analogamente, quando vamos ao cinema, quedamo-nos no escuro a observar cenas
que passam no grande ecrã, cenas essas que também provém de luzes oriundas da
técnica.
Não obstante a
“Alegoria da Caverna” fazer-nos lembrar algumas peculiaridades da arte
cinematográfica, existe uma diferença fundamental entre os prisioneiros da
caverna de Platão e nós, espetadores e apreciadores da sétima arte. Esta
torna-se nítida quando Sócrates pergunta a Gláucon: “pensas que (…) eles [os
prisioneiros] tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras
projetadas pelo fogo na parede oposta da caverna?” (515 a). Nesta passagem, a
palavra ‘sombras’ adquire um significado de suma importância, pois remete
para a dicotomia
platónica ‘aparência-realidade’. Na verdade, os prisioneiros
da caverna só vislumbram sombras das Ideias, pelo que não conseguem conhecer o
Bem, o Verdadeiro e o Belo em Si Mesmos.
Os espetadores de cinema, por seu turno, têm a capacidade de optar por uma
visão mais realista ou ilusória dos filmes, consoante a ontologia da imagem em
movimento que reivindiquem. Não descurando as várias teorias existentes sobre o
assunto, traremos à discussão, neste mesmo ponto, dois autores que possuem
posições distintas acerca da natureza do cinema: o
crítico francês André Bazin, que defende uma perspetiva realista da sétima arte
(alegando que a essência desta reside no seu poder de expor as realidades), e o
pensador alemão Rudolf Arnheim, que opta por uma visão formalista (aquela que
crê que o cinema só é arte quando procura formas próprias de expressão, isto é,
formas de organização da iluminação, dos gestos ou da composição, por exemplo; segunda
esta perspetiva, o cinema é autêntico não quando imita a realidade, mas sim
quando a manipula, dando assim lugar à ilusão e à imaginação).
Posto isto, podemos
asseverar que o objetivo da presente comunicação consiste em pensar nos vários sentidos
que as palavras ‘realidade’ e ‘ilusão’ podem adquirir após uma leitura atenta
do Livro VII da obra A República e
ainda após uma análise das duas ontologias da imagem em movimento supramencionadas.
Desta forma, esperamos tornar mais compreensível a dissemelhança entre os
prisioneiros da caverna de Platão e os espetadores de cinema.
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