sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O Tiro de "The Docks of New York" (1928)

Apesar de, hoje, considerarmos o som como uma espécie de elemento natural do filme, uma leitura de Rudolf Arnheim impele a que questionemos a relevância da sua presença. Tal como contestou o cinema a cores, este psicólogo chamou a atenção, na sua obra magna sobre a sétima arte, Film as Art, para o facto de os talkies tenderem a enfatizar um único elemento: a fala. O cinema mudo dos anos 20 foi o único que conseguiu mostrar a importância do visível, compreendendo que o filme não tem necessariamente que 'falar' para revelar determinados acontecimentos. Arnheim deu, a título de exemplo, o tiro de As Docas de Nova Iorque, de 1928. Na obra de Joseph Sternberg é o voo dos pássaros que nos faz perceber que houve o disparo de um revólver. Recorrendo às palavras do próprio Arnheim, "o levantar dos pássaros é extraordinariamente eficaz e, provavelmente, mais do que se, na realidade, ouvíssemos o detonar da pistola. E aqui entra outra factor: o espectador talvez não deduz simplesmente que houve um tiro mas, de facto, qualquer coisa inerente às propriedades do som - o alarme, a agitação dos pássaros que levantam voo, representa visualmente as propriedades acústicas do tiro" (Arnheim, em Film as Art, 1957 - pág.89 na tradução portuguesa).

Será, então, o som um elemento imprescindível ao filme?



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Resumo sobre a Distopia "Fahrenheit 451" (Colóquio de Outono 2016)

Caros Leitores,
Segue o resumo da minha comunicação para o próximo Colóquio de Outono subordinado ao tema "Utopias, Distopias e Heteropias", a decorrer entre os dias 17 e 18 de novembro de 2016, no ILCH, Universidade do Minho, Braga:



“A Distopia no Cinema: Fahrenheit 451, de François Truffaut”

Pensa-se que o termo ‘distopia’ terá sido cunhado pelo filósofo John Stuart Mill (1806-1873), em 1868, em Inglaterra, aquando de uma discussão sobre a política governamental da Irlanda. Etimologicamente, a palavra expressa um lugar de dor, infelicidade ou privação e, no campo das artes, surge como uma espécie de advertência a certas tendências que distanciam o ser humano de ideais como, por exemplo, o ideal de liberdade. Fahrenheit 451, de 1966, realizado pelo cineasta francês François Truffaut (1932-1984) e inspirado no romance de Ray Bradbury (1920-2012), escrito em plena Guerra Fria, apresenta-se como uma obra cinematográfica que coloca o espectador frente-a-frente com uma sociedade americana futura, profundamente capitalista e consumista, na qual não existe espaço para a literatura ou para o debate. Nela, a televisão apresenta-se, numa linguagem marxista, como o novo ópio do povo; já os livros são considerados profundamente subversivos e, por isso, devem ser queimados pelos ‘fireman’ (a autoridade). Ao apresentar um método de controlo ideológico de massas, típico dos sistemas totalitários, o referido filme apela, portanto, a que façamos uma reflexão sobre as consequências de um lugar onde a censura, a repressão política e a superficialidade da imagem se sobrepõem a uma humanidade livre e esclarecida.

Sara Tiago Gonçalves
FCT, CEHUM, Departamento de Filosofia da Universidade do Minho, Braga, Portugal
sara.goncalves@ilch.uminho.pt
 

domingo, 13 de novembro de 2016

"Seven Chances" (1925), de Buster Keaton



M/6 | Comédia, Romance | 56 min.

Título Original: Seven Chances
Ano: 1925
Realizado por: Buster Keaton
Escrito por: Roi Cooper Megrue, Clyde Bruckman
Estrelado por: Buster Keaton, Ruth Dwyer, T. Roy Barnes

Pontuação no ImDb: 8/10 | A minha pontuação: 9,5/10


Buster Keaton (1895-1966), ator e realizador americano, considerado o grande rival de Charlie Chaplin, deixou-nos uma obra brilhante intitulada Seven Chances. O filme conta a história de "Jimmy Shannon", um jovem a quem é deixada uma herança de 7 milhões de dólares mediante a seguinte condição imposta pelo avô: para receber o dinheiro, "Shannon" deverá estar casado até às 19 horas do dia do seu 27º  aniversário. O problema é que a notícia é-lhe dada a poucas horas desse acontecimento. Há que correr contra o relógio. Após a bonita "Mary" recusar a sua proposta de casamento, a personagem principal do filme tenta a sua sorte com uma de sete raparigas. E eis que o humor grita através de sucessivas fugas e quedas, quedas e fugas. Essas são mais do que sete.

Aqui fica o acesso ao filme, que está disponível no Youtube:



quarta-feira, 9 de novembro de 2016

The Real of Reality | ZKM, Alemanha 2016

Caros Leitores,
Deixo-vos o link do resumo da comunicação que fiz, no passado dia 3 de novembro de 2016, no Congresso de Filosofia e Cinema intitulado "The Real of Reality", no ZKM, em Karlsruhe, na Alemanha:

 

"Aller au Cinema - L. Lumière", de Éric Rohmer



Documentário | 65 min.

Realizado por: Éric Rohmer
País: França
Ano: 1968


Uma conversa entre Henri Langlois, fundador da Cinemateca Francesa e responsável pela preservação de filmes dos Irmãos Lumière, e o cineasta Jean Renoir. Excelente forma de ficar a conhecer um pouco mais sobre os inventores do cinematógrafo.