Apesar de, hoje, considerarmos o som como uma espécie de elemento natural do filme, uma leitura de Rudolf Arnheim impele a que questionemos a relevância da sua presença. Tal como contestou o cinema a cores, este psicólogo chamou a atenção, na sua obra magna sobre a sétima arte, Film as Art, para o facto de os talkies tenderem a enfatizar um único elemento: a fala. O cinema mudo dos anos 20 foi o único que conseguiu mostrar a importância do visível, compreendendo que o filme não tem necessariamente que 'falar' para revelar determinados acontecimentos. Arnheim deu, a título de exemplo, o tiro de As Docas de Nova Iorque, de 1928. Na obra de Joseph Sternberg é o voo dos pássaros que nos faz perceber que houve o disparo de um revólver. Recorrendo às palavras do próprio Arnheim, "o levantar dos pássaros é extraordinariamente eficaz e, provavelmente, mais do que se, na realidade, ouvíssemos o detonar da pistola. E aqui entra outra factor: o espectador talvez não deduz simplesmente que houve um tiro mas, de facto, vê qualquer coisa inerente às propriedades do som - o alarme, a agitação dos pássaros que levantam voo, representa visualmente as propriedades acústicas do tiro" (Arnheim, em Film as Art, 1957 - pág.89 na tradução portuguesa).
Será, então, o som um elemento imprescindível ao filme?