Pontuação: 6,5/10
M/14 | 1h48 min. | Comédia, Drama
Realizado por: Marcel Barrena
Escrito por: Marcel Barrena
Estrelado por: Dani Rovira, Karra Elejalde, Alexandra Jiménez, Maria de Medeiros
"Todo el mundo sufre una enfermedad incurable y degenerativa: la vida" ("Manolo").
O
novo filme de Marcel Barrena ergue-se a partir de uma narrativa forte. Não é a
primeira vez que este realizador traz ao grande ecrã uma história real e
inspiradora – já o havia feito com Mon
Pétit, em 2012, um documentário sobre Albert Casals, um homem de cadeira de
rodas que, mesmo sem dinheiro, conseguiu embarcar numa longa viagem pelo mundo.
100 metros também apresenta ao
espectador uma história verídica sobre outro grande homem, Ramón Arroyo, o
espanhol que completou uma prova de triatlo composta por 3,8 kms de natação,
180 kms de bicicleta e 42 kms de maratona, em menos de 17 horas.
Os
primeiros minutos de 100 metros
revelam uma altura em que tudo parecia correr bem para “Ramón” (Dani Rovira) (supra):
além de estar à espera do segundo filho, é reconhecido no seu trabalho, que vai
de vento em popa. Mas a estabilidade e a alegria que imperam no início deste
drama depressa são substituídas por um jogo de mãos que surge como uma
premonição: apercebemo-nos que há algo de errado com o físico da personagem e,
num instante, recebemos a informação de que “Ramón” tem esclerose múltipla. A
partir do momento do diagnóstico, Barrena convida-nos a sofrer com uma família
que ficou sem chão, tal como “Manolo” (interpretado de forma brilhante pelo ator
Karra Elejalde) já havia ficado sem teto.
Os
grandes momentos desta longa-metragem são proporcionados pelas picardias entre “Ramón”
e “Manolo” (infra). A dupla tanto nos consegue oferecer instantes de comédia como
diálogos que apelam a uma reflexão profunda e sentida sobre a existência
humana. A aproximação entre os dois surge a pedido de “Inma” (Alexandra
Jiménez), esposa do primeiro e filha do segundo, uma mulher ansiosa por ver a
sua família sentada, pacificamente, à mesa, dividindo, sem discussões, o mesmo lar.
A
guerra entre o genro e o sogro acaba por esmorecer à medida que os dois
treinam, juntos, para a prova de triatlo. Unidos por um mesmo objetivo – que o
escleroso contrarie a ideia de que, dali a um ano, já não conseguirá andar 100
metros –, “Ramón” e “Manolo” acabam por criar uma amizade que traz bons frutos:
se o primeiro acaba por questionar as limitações do seu corpo e se supera, dia
após dia, o segundo abre o coração para um novo amor, um amor que já vinha
anunciado na sua canção favorita – “Noelia” (interpretada pela grandiosa Maria de Medeiros), de Nino Bravo:
“Hace tiempo que sueño con ella / y sólo
sé que se llama Noelia, / hace tiempo que vivo por ella / y sólo sé que se
llama Noelia...” (infra).
Apesar
de se alicerçar sobre uma grande história e de contar com um conjunto de
performances dignas de aplausos, 100
metros fica muito aquém no que respeita ao primor da técnica.
Planos-sequência mal escolhidos, rotações de câmara que surgem sem qualquer
necessidade (a forma como o realizador nos faz ver “Ramón”, deitado na cama,
mais ou menos a meio do filme, chega a provocar náuseas), uma fotografia que
não sabe tirar partido das belezas do campo e músicas que entram naqueles
exatos momentos em que a nossa mente pede silêncio (nem o facto de a banda
sonora ser de Rodrigo Leão chega para nos fazer perdoar o exagero). Juntando
estas críticas a um ou outro cliché (como aquele que espelha a personagem de Ricardo
Pereira, um tipo que surge, apenas e só, para mostrar que os amigos são aqueles
que estão lá, incondicionalmente, nos maus momentos), podemos asseverar que 100 metros tinha tudo para ser um mau filme. Não obstante, conseguimos
perdoar Barrena, pois quando estamos perante histórias de resiliência e de
superação, há toda uma esperança que nos conforta e faz sorrir.
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