segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Um filme nas palavras de Danto


"Pois um filme consegue algo de espetacular, não apenas mostrando o que ele mostra, mas mostrando o facto de que ele é mostrado, dando-nos não apenas um objeto, mas uma perceção desse objeto, ao mesmo tempo um mundo e um modo de ver esse mundo."

Arthur Danto, em "Moving Pictures", Quarterly Review of Film Studies 4, n.º1, pp.1-21.

Agora nos Cinemas: novembro de 2017

What Happened to Monday? (pt: Sete Irmãs)


Pontuação: 6.5/10

M/16 | 123 min. | Drama, Ação, Aventura

Realizado por: Tommy Wirkola
Escrito por: Max Botkin, Kerry Williamson
Estrelado por: Noomi Rapace, Glenn Close, Willem Dafoe



"Num futuro não muito distante, o aumento populacional fez com que os recursos naturais do planeta Terra se tornassem insuficientes. Para contornar o problema da escassez, foram criados alimentos geneticamente modificados. Mas as decisão revelou-se desastrosa: a consequência foi uma anormal gestação de gémeos, que agravou o problema de sobrepopulação. Por causa disso, o Governo, em parceria com o Comité do Controlo da Natalidade, criou o que chamaram de nova política do filho único. Quando Karen Settman morre numa sala de partos ao dar à luz as suas sete filhas, Terrence, o pai dela, decide que vai contrariar as políticas governamentais e salvar as suas netas. De modo a passarem despercebidas, ele dá a cada uma o nome de um dia da semana e cria uma regra rígida que todas têm de seguir: apenas podem sair à rua no dia da semana correspondente ao seu nome, assumindo sempre a identidade de Karen Settman, a sua falecida mãe. Tudo corre sem imprevistos durante quase três décadas. Até que, num domingo como tantos outros, uma delas sai de casa e nunca mais regressa…" (retirado de: http://cinecartaz.publico.pt/Filme/377967_sete-irmas; acedido a 13/11/2017).

sábado, 11 de novembro de 2017

"Mel" (2013). Sobre o ir embora.


Pontuação: 8/10

M/16 | 1h36 min. | Drama
Título original: Miele
Realizado por: Valeria Golino
Escrito por: Valeria Golino, Francesca Marciano e Valia Santella; baseado na obra de Mauro Covacich
Estrelado por: Jasmine Trinca, Carlo Cecchi, Libero De Rienzo

Um dia a gente chega e no outro vai embora
/ Cada um de nós compõe a sua história
/ E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
/ E ser feliz...
Maria Bethânia

Miele é uma longa-metragem italiana, datada de 2013, que marcou a estreia de Valeria Golino na realização cinematográfica. Baseada no romance A nome tuo, de Mauro Covacich, esta obra conta a história de “Irene” (brilhantemente interpretada pela atriz Jasmine Trinca), uma jovem que vive sozinha, à beira-mar, perto de Roma, num local que, nas suas palavras, consegue ser “o mais belo” e  também “o mais feio”.
Tendo como fundo uma banda sonora que é, ora clássica, ora moderna, Miele toma a música como um elemento essencial, um elemento que grita, sobretudo, nos momentos de clímax. “Irene” não larga, ela própria, os seus headphones. São eles que acompanham a personagem principal nas suas idas ao México (ver imagem infra), viagens que têm como principal intuito arranjar medicamentos veterinários para vender a doentes terminais que querem antecipar a sua morte. É este, de resto, o tema central do filme: a morte assistida. Como explicou a Professora Laura Ferreira dos Santos no seu último livro A morte assistida e outras questões de fim-de-vida, “trata-se da antecipação voluntária da morte em casos clínicos extremamente graves, irreversíveis, e no respeito de todas as salvaguardas existentes nas leis despenalizadoras. Pode revestir-se de duas formas – a auto e a hetero-administrada -, habitualmente designadas de ‘suicídio (medicamente) assistido’ e ‘eutanásia’” (Santos, 2015: 27). Na peça cinematográfica de Golino, o que temos são casos de suícidio medicamente assistido. Quer isto dizer que, apesar de preparar os medicamentos (com água ou vodka), não é “Irene” (aliás, “Mel”, o seu ‘nome comercial’, o único que os clientes conhecem) que os dá a beber: são os próprios doentes que ingerem o produto, sendo as suas mãos as últimas a tocar no copo.


Esta longa-metragem revela-se de extrema pertinência para quem se preocupa em estudar questões éticas levantadas pelo cinema: isto, porque ajuda a complexificar a questão da morte assistida clandestina. Será ela correta, em termos morais? E qual é, afinal, a principal diferença entre a morte assistida clandestina e a morte assistida legal? Além destas questões, o filme obriga-nos a pensar nos limites do suicídio medicamente assistido ou até mesmo da eutanásia: quando é que alguém pode decidir morrer? A pergunta surge no íntimo de “Irene” quando esta se depara com um engenheiro, o "Sr. Grimaldi" (Carlo Cecchi) (ver imagem infra), que lhe compra o barbitúrico para pôr fim à sua vida, mas que, nas palavras do próprio, “tem uma saúde de ferro” (apesar da quantidade exorbitante de cigarros que fuma). O homem não tem qualquer doença física, mas perdeu o interesse em viver. Ora, será que o sofrimento de ordem psicológico pode constituir uma base aceitável para conceder a morte assistida?


Quebrando a enorme barreira que estabeleceu entre si e os seus clientes, “Irene” acaba por dizer o seu nome verdadeiro ao engenheiro e cria, com ele, uma enorme relação de cumplicidade. Notamos, ao longo do drama, minuto após minuto, que os laços que se criam entre as duas personagens devem-se ao facto de ambos estarem sós no mundo. É certo que a protagonista tem pai e tem um amante, mas o trabalho que escolheu não lhe permite ser sincera com nenhum dos dois. Desabafar é, para ela, não raras vezes, impossível. O seu rosto denota essa mesma impossibilidade, com expressões que deixam qualquer espectador sensível absolutamente atordoado. 
Miele é a realidade e a densidade humanas espelhadas no grande ecrã. Vencedor de uma menção especial do júri ecuménico no Festival de Cannes e finalista do Prémio Lux, este filme é, nada mais, nada menos, que uma estreia em grande da realizadora Golino.


Referência bibliográfica: Santos, Laura Ferreira (2015). A Morte Assistida e Outras Questões de Fim-de-Vida. Coimbra: Almedina.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

"Sabotage", de Alfred Hitchcock (1936)

Pontuação: 7,5/10


Título original: Sabotage (À 1 e 45, em português)

Duração: 1h16 min.

Género: Thriller

Realizado por: Alfred Hitchcock

Baseado em: The Secret Agent, de Joseph Conrad

Estrelado por: Sylvia Sidney, Oskar Homolka, Desmond Tester e John Loder




Porque nunca é de mais revisitar o cinema do mestre de suspense, sugerimos o visionamento de Sabotage, um thriller que enceta, precisamente, com a definição de "sabotagem". Ao longo de 1 hora e 16 minutos, assistimos à vida paralela do dono de um cinema, "Mr. Verloc" (Oskar Homolka), em Londres, um homem que, aos olhos da sua esposa (Sylvia Sidney), é uma pessoa extremamente bondosa e pacata. O problema é que ele acaba por arrastar o irmão de "Mrs. Verloc", o pequeno "Steve" (Desmond Tester), para as suas artimanhas e o pior acontece... O vídeo que se segue mostra a cena central desta história de Hitchcock, uma cena que chocou e revoltou muitos fãs: