Pontuação: 7/10
Realizado por: Benedict Andrews
Escrito por: David Harrower (baseado na sua peça "Blackbird")
Estrelado por: Ruby Stokes, Rooney Mara, Ben Mendelsohn
"I don't know anything about you except you abused me"
- "Una" (Rooney Mara)
Podemos entender Una como um filme que conta não uma, mas duas histórias, ao mesmo tempo: a primeira, sobre um amor entre um adulto e uma criança de 13 anos; a segunda, sobre um caso de pedofilia que obriga o homem envolvido a mudar a sua identidade e a rapariga abusada a sobreviver com relações sexuais vazias. Cabe ao espectador escolher qual das duas vence, no final.
Esta longa-metragem é baseada numa peça de teatro, Blackbird, de David Harrower, o que explica que o seu argumento seja contado, por parte do realizador Benedict Andrews (estamos perante a sua estreia no cinema), sem grandes pressas. Em Una, é tudo lento e pesado. Os próprios protagonistas Ben Mendelsohn (“Ray”) e Rooney Mara (“Una” que, em jovem, é brilhantemente representada por Ruby Stokes - ver fotografia infra) vestem a pele de personagens sofridas, nostálgicas e incompreendidas. Personagens a quem o tempo não cura as feridas, pelo contrário: nesta obra, a passagem do tempo só traz mais dor, de tal forma que a personagem principal, com 27 anos, ainda nem conseguiu abandonar a casa da mãe, largar o ninho, construir uma vida autónoma.
Por forma a tentar compreender o que sucedeu no passado, “Una” procura “Ray” (cujo novo nome é “Pete”) na fábrica onde este trabalha para exigir explicações sobre o que aconteceu há vinte e tal anos atrás, quando os dois se envolveram. A conversa entre os protagonistas é intercalada com uns quantos flashbacks que, pela forma como são construídos, acabam por nos desvincular do lado mais teatral da história. É então que, à medida que os minutos passam, damos por nós a pensar numa série de questões eticamente relevantes, entre as quais: poderá uma relação amorosa entre um adulto e uma criança ser moralmente aceitável?
Não descurando algumas falhas de realização, normais em quem só enveredou agora pelo mundo da sétima arte (veem-se alguns cortes bruscos – logo no início, temos um que nos faz abandonar uma menina, que caminha silenciosamente, para abraçar uma discoteca, discoteca essa onde as luzes neon e a música eletrónica ofuscam e ensurdecem), a verdade é que este filme está cheio de grandiosos close-ups e de outros tantos planos bem construídos (no momento em que se encontra à porta da já referida fábrica, vemos o reflexo de uma “Una” pálida e triste pelo espelho retrovisor do seu carro, um reflexo que mora dentro de um enquadramento quase perfeito). Além disso, como sabemos, não é fácil transpor a linguagem e os gestos tipicamente teatrais para o cinema (relembre-se Fences, de 2016, que falhou, e redondamente, a meu ver, o objetivo). Posto isto, Andrews foi minimamente competente e Una acaba por ser um filme que merece ser visto.
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