Pontuação: 9/10
M/12 | 1h58m. | Comédia, Drama, Romance
Realizado por: Jim Jarmusch
Escrito por: Jim Jarmusch, William Carlos Williams (poem), Ron Padgett (poems)
Estrelado por: Adam Driver, Golshifteh Farahani, Nellie
Paterson: I guess you really like poetry then?
Japonese Poet: I breathe poetry.
Paterson: So you write poetry?
Japonese Poet: Yes. (...) My poetry only in Japonese. No translation.
Poetry in translations is like taking a shower with a raincoat on.
Nos EUA, no estado de New Jersey, há uma cidadezinha chamada
Paterson. Foi nela que nasceu um pediatra e poeta chamado William Carlos
Williams, aquele que escreveu aquele longo poema de seu nome “Paterson” (dizem
que foi inspirado em Ulisses, de
James Joyce, e que surgiu também como uma resposta a The Waste Land, de T. S. Eliot). E foi esta mesma obra que levou Jim
Jarmusch a realizar este filme que tem como personagem principal um homem
chamado... Adivinhem?! “Paterson”.
A história de Paterson começa numa segunda feira, termina na
segunda feira seguinte e o que vemos nos “entretantos” é a rotina da vida de um
casal que encarna uma América tranquila, pacata, desligada de maquinarias e de
tecnologias. Uma América que ainda sabe sentar-se à mesa e conversar. Uma América
que não tem medo de falar com estranhos. Uma América que mais parece, enfim,
uma utopia.
“Paterson” (interpretado por Adam Driver; ver a primeira imagem infra) é um motorista de
autocarros na cidade de Paterson e a sua esposa, “Laura” (interpretada por Golshifteh
Farahani), é uma dona de casa que passa o tempo a pintar cortinas, a fazer
cupcakes, a tocar guitarra e a cozinhar tartes com couves de bruxelas e
queijo. No meio de tudo isto, temos, da sua parte, uma veneração ao preto e ao branco,
provavelmente ao yin e ao yang, porque se há coisa que este filme é é zen (ver a segunda imagem infra).
Urge perguntar: como é que uma longa metragem com um argumento tão
linear, tão simples, nos consegue apaixonar? Como é que não nos cansamos de ver
“Paterson” acordar sempre à mesma hora (com o seu “despertador biológico”; sim, porque a personagem recusa-se a ter um smartphone...), ir
trabalhar, escrever uns versos no seu pequeno caderno antes de ligar o
autocarro, voltar para casa, endireitar a caixa do correio, jantar com “Laura”,
passear “Marvin” (um buldogue inglês giríssimo, que mais parece falar a
linguagem humana), parar no bar de sempre, beber uma cerveja, regressar a casa
e dormir? Porque, por detrás de toda esta mesmice, há Poesia: a que “Paterson”
escreve (o autor dos poemas declamados no filme – e escritos propositadamente
para esta obra – é Ron Padgett, amigo de Jarmusch), a que “Paterson” lê (de
Williams), a que se esconde por detrás da queda de água onde o protagonista pára, não raras vezes, para refletir e ainda a que mora na casa do
casal - nos seus quadros, nas suas paredes e nos vestidos de "Laura".
Paterson é de uma simplicidade e de uma beleza difíceis de encontrar no cinema de hoje em dia. Sabemo-lo, desde logo, por causa daquele extraordinário diálogo entre “Paterson”
e o “Poeta Japonês”, um diálogo que emerge quase no final do filme e que é, a meu ver, nada mais, nada menos, que uma espécie de sublime
kantiano (leiam a epígrafe deste artigo e deliciem-se). Este filme até poderia ser (e desculpem-me a expressão!) uma "valente seca"; mas, ainda assim, merecia ser visto só por causa desta mesma conversa, uma conversa entre dois homens que respiram palavras escritas. Que as amam. E amam sem pressas.
Estamos perante uma obra que é, no seu todo, Pura Poesia e,
ao mesmo tempo, Poesia Pura: Poesia prosaica, quotidiana, terrena. A mais
bonita e sincera, portanto.
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