Na fotografia, com o moderador José Amaro (aluno de Filosofia da Universidade do Minho) - apresentação do meu Projeto de Doutoramento "Filosofia e Cinema: Uma Interseção entre a Estética e a Moralidade do Filme", no Auditório do ILCH - 20 de novembro de 2015 (evento promovido no âmbito das celebrações dos 10 anos da Licenciatura em Filosofia da Universidade do Minho e do Dia Internacional da Filosofia 2015).
Deixo-vos algumas passagens do meu discurso:
"A
relação entre a Filosofia e o Cinema não é um tema novo; nos últimos anos, muitos
investigadores têm dissertado sobre o assunto (veja-se, a título de exemplo,
o número da Revista Portuguesa de Filosofia de 2013 intitulado “Filosofia
e Cinema”). Não obstante, em Portugal, ainda não houve um trabalho de
investigação inovador sobre a relação entre a estética e a moralidade do
filme. Ademais, comummente, os escritos existentes sobre o assunto
refletem sobre a relação entre a moral e a arte de uma forma geral, não se
centrando, portanto, num único tipo de arte (é o caso de Aesthetics and Ethics.
Essays at the Intersection, editado por Jerrold Levinson).
Ora,
dada a importância que tem vindo a adquirir na vida das pessoas,acreditamos que
o cinema - existindo e subsistindo devido à sua intenção de nos confrontar
não apenas com formas imaginativas, mas também com conteúdos realistas – será
uma área particularmente promissora no confronto entre estética e moral.
Numa
perspetiva científica, podemos asseverar que os debates existentes até agora
têm-se focado predominantemente no conceito geral de ‘arte’. Desde logo,
filósofos contemporâneos que refletem sobre as implicações morais das obras de
arte admitem que ainda sabemos muito pouco ou até quase nada sobre o
assunto. Pensadores como Noël Carroll ou Jerrold Levinson (que já atrás
mencionei), por exemplo, têm vindo a fazer um esforço para perceber se uma
falha ética de um objeto artístico constitui, necessariamente, um defeito
estético. Existem, sobretudo, três posições distintas acerca do problema aqui
levantado. São elas: o autonomismo estético, o eticismo e o imoralismo.
Urge, pois, perguntar: será que a estética e a moralidade de uma obra de arte
constituem esferas autónomas?; será que um objeto artístico com falhas
morais é uma obra esteticamente má?; ou será que os aspetos imorais
intensificam a relação que estabelecemos com a arte?
A originalidade deste
projeto reside na experiência de vincular a discussão anterior ao cinema,
tentando perceber se, nos filmes, podemos encarar a estética e a moral
como esferas independentes.
(...)
O projeto "Filosofia e Cinema: Uma
interseção entre a Estética e a Moralidade do Filme" tem cinco objetivos
particulares e um objetivo geral. O primeiro objetivo particular é este:
colocar a questão “devemos encarar a estética e a moralidade do filme como
esferas autónomas ou será sempre necessário estabelecer uma relação entre as duas
numa obra cinematográfica?”; dado que não consideramos possível entender o cinema
como algo isolado do mundo, acreditamos que é normal que surja, no mesmo, uma
tensão entre a apreciação moral e a apreciação estética. Portanto, refletir
sobre tal tensão será outro dos intuitos do trabalho; pretenderemos provar, no seguimento do segundo objetivo, que os autonomistas
não têm uma visão correta por considerarem arte e moralidade esferas independentes;
aludindo a diversas obras cinematográficas, dissertaremos sobre o que une os
espetadores às personagens ficcionais dos filmes, nomeadamente em termos do seu
estatuto ético. Neste mesmo ponto, refletiremos sobre: o “particularismo moral”
(por oposição ao “principalismo”); sobre a “teoria da ficção” de Kendall
Walton; sobre a chamada “teoria da semelhança” de Gregory Currie, bem como
sobre a “hipótese da simulação”, lançada por Roy Sorensen; o culminar da
reflexão sobre os pontos anteriormente referidos será a defesa de alguns aspetos
positivos do imoralismo estético e do moralismo moderado, defesa essa que nos
permitirá chegar a uma nova posição: através da reflexão e da argumentação,
esferas basilares da filosofia, esperamos conseguir conciliar perspetivas até
então inconciliáveis. Este é o nosso último objetivo particular.
Posto isto, salientar que, por detrás de todos os objetivos particulares expostos, existe a intenção não passageira (expressão que encontramos na teoria histórica de Levinson) de encarar o cinema como uma forma de valorização da condição humana...".