terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Apresentação do Projeto de Doutoramento na U.M. (20 de novembro de 2015)


Na fotografia, com o moderador José Amaro (aluno de Filosofia da Universidade do Minho) - apresentação do meu Projeto de Doutoramento "Filosofia e Cinema: Uma Interseção entre a Estética e a Moralidade do Filme", no Auditório do ILCH - 20 de novembro de 2015 (evento promovido no âmbito das celebrações dos 10 anos da Licenciatura em Filosofia da Universidade do Minho e do Dia Internacional da Filosofia 2015).



Deixo-vos algumas passagens do meu discurso:

"A relação entre a Filosofia e o Cinema não é um tema novo; nos últimos anos, muitos investigadores têm dissertado sobre o assunto (veja-se, a título de exemplo, o  número da Revista Portuguesa de Filosofia de 2013 intitulado “Filosofia e Cinema”). Não obstante, em Portugal, ainda não houve um trabalho de investigação inovador sobre a relação entre a estética e a moralidade do filme. Ademais, comummente, os escritos existentes sobre o assunto refletem sobre a relação entre a moral e a arte de uma forma geral, não se centrando, portanto, num único tipo de arte (é o caso de Aesthetics and Ethics. Essays at the Intersection, editado por Jerrold Levinson).
Ora, dada a importância que tem vindo a adquirir na vida das pessoas,acreditamos que o cinema - existindo e subsistindo devido à sua intenção de nos confrontar não apenas com formas imaginativas, mas também com conteúdos realistas – será uma área particularmente promissora no confronto entre estética e moral.
Numa perspetiva científica, podemos asseverar que os debates existentes até agora têm-se focado predominantemente no conceito geral de ‘arte’. Desde logo, filósofos contemporâneos que refletem sobre as implicações morais das obras de arte admitem que ainda sabemos muito pouco ou até quase nada sobre o assunto. Pensadores como Noël Carroll ou Jerrold Levinson (que já atrás mencionei), por exemplo, têm vindo a fazer um esforço para perceber se uma falha ética de um objeto artístico constitui, necessariamente, um defeito estético. Existem, sobretudo, três posições distintas acerca do problema aqui levantado. São elas: o autonomismo estético, o eticismo e o imoralismo. Urge, pois, perguntar: será que a estética e a moralidade de uma obra de arte constituem esferas autónomas?; será que um objeto artístico com falhas morais é uma obra esteticamente má?; ou será que os aspetos imorais intensificam a relação que estabelecemos com a arte?
A originalidade deste projeto reside na experiência de vincular a discussão anterior ao cinema, tentando perceber se, nos filmes, podemos encarar a estética e a moral como esferas independentes.

(...)

O projeto "Filosofia e Cinema: Uma interseção entre a Estética e a Moralidade do Filme" tem cinco objetivos particulares e um objetivo geral. O primeiro objetivo particular é este: colocar a questão “devemos encarar a estética e a moralidade do filme como esferas autónomas ou será sempre necessário estabelecer uma relação entre as duas numa obra cinematográfica?”; dado que não consideramos possível entender o cinema como algo isolado do mundo, acreditamos que é normal que surja, no mesmo, uma tensão entre a apreciação moral e a apreciação estética. Portanto, refletir sobre tal tensão será outro dos intuitos do trabalho; pretenderemos provar, no seguimento do segundo objetivo, que os autonomistas não têm uma visão correta por considerarem arte e moralidade esferas independentes; aludindo a diversas obras cinematográficas, dissertaremos sobre o que une os espetadores às personagens ficcionais dos filmes, nomeadamente em termos do seu estatuto ético. Neste mesmo ponto, refletiremos sobre: o “particularismo moral” (por oposição ao “principalismo”); sobre a “teoria da ficção” de Kendall Walton; sobre a chamada “teoria da semelhança” de Gregory Currie, bem como sobre a “hipótese da simulação”, lançada por Roy Sorensen; o culminar da reflexão sobre os pontos anteriormente referidos será a defesa de alguns aspetos positivos do imoralismo estético e do moralismo moderado, defesa essa que nos permitirá chegar a uma nova posição: através da reflexão e da argumentação, esferas basilares da filosofia, esperamos conseguir conciliar perspetivas até então inconciliáveis. Este é o nosso último objetivo particular.
Posto isto, salientar que, por detrás de todos os objetivos particulares expostos, existe a intenção não passageira (expressão que encontramos na teoria histórica de Levinson) de encarar o cinema como uma forma de valorização da condição humana...".


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