Fotografia retirada de: http://www.universocinema.com/UC%20CRITICAS/Experimenter.html
Ficha técnica:
M12 | 1h38m. | Biografia, Drama, História
Título: Experimenter: Stanley Milgram, O Psicólogo que Abalou a América
Título original: Experimenter
Realizador: Michael Almereyda
Escrito por: Michael Almereyda
País: EUA
Protagonizado por: Peter Sarsgaard, Winona Ryder
"There was a time, I suspect, when men and women could give a fully human response to any situation. When we could be fully, absorbed in the world as human beings. But more often, now, people don't get to see the whole situation but only some small part of it. There's a division of labor, and people carry out small, narrow, specialized jobs, and we can't act without some kind of direction from on high. I call this 'the agentic state'. The individual yields to authority, and in doing so becomes alienated from his own actions." ("Stanley Milgram", interp. por Peter Sarsgaard).
Experimenter coloca-nos frente-a-frente com o psicólogo de origem judaica Stanley Milgram que, no início dos anos 60 do século XX, levou a cabo uma experiência laboratorial sobre a obediência na Universidade de Yale, nos EUA. A investigação foi motivada pela 2ª Guerra Mundial, nomeadamente pelas câmaras de gás que produziram mortes sem sentido, mortes que apelam a que nos sentemos e reflitamos sobre o significado de "banalidade do mal", uma expressão da filósofa Hannah Arendt. Durante o filme, a questão do poder da autoridade é reforçada no momento em que aparecem imagens da condenação do ex SS Adolf Eichmann (que alegou ser obediente ao regime de Hitler até ao fim).
O foco da experiência de Milgram era este: perceber até que ponto os participantes na experiência carregariam num botão que despoletava descargas elétricas a um 'aluno' - que era, para o 'professor', um desconhecido - sempre que este respondia incorretamente a uma questão (note-se que esse 'aluno' - era sempre o mesmo - sofria de uma doença cardíaca). O resultado foi impressionante: nenhuma das pessoas que encarnou o papel de 'professor' se recusou a participar, mesmo sabendo que estaria a dar choques a outrem; 65% dos participantes aplicou a descarga máxima; nenhum dos participantes teve a iniciativa de se levantar e ir espreitar, à outra sala da experimentação, como é que se encontrava o 'aluno' (se ele ainda estaria sequer a respirar). Apesar de ter havido suor, nervosismo e até irritação, a obediência dos participantes àquilo que lhes tinha sido pedido no início da experiência foi mais forte.
O que esta história nos conta é, no mínimo, preocupante e levanta questões éticas de suma relevância. Até onde é que um ser humano consegue ir quando lhe é dada uma ordem? E como é que essa pessoa consegue prescindir tão rapidamente do seu dever de responsabilização pelos seus semelhantes? Pela experiência, parece que a existência de um agente de autoridade que nos ordena suspende a nossa consciência moral. O problema é que é essa vertente humana que nos distingue e define. Afinal, não somos autómatos. Não podemos, pura e simplesmente, fazer uma epoché do nosso 'eu moral'.
Enquanto realizador desta obra cinematográfica, Michael Almereyda denota uma grande preocupação em lembrar-nos (ou relembrar-nos) de que não vivemos no mundo isoladamente; vivemos com o outro e para o outro. Talvez por isso tenha optado por cenários estanques, papéis de parede que não representam, mas antes apresentam a realidade na qual habitamos. Talvez por isso também tenha optado por deixar a distância entre a personagem principal do filme e nós, espectadores, mais curta (Peter Sarsgaard fala inúmeras vezes diretamente para a câmara). Considero que tais opções foram, sem dúvida, profundamente inteligentes.
Aprendamos, pois, com esta história e com este filme que, de forma pertinente, chama a atenção para a seguinte ideia do filósofo existencialista Kierkegaard: "life can only be understood backwards, but it must be lived forwards".
Experimenter coloca-nos frente-a-frente com o psicólogo de origem judaica Stanley Milgram que, no início dos anos 60 do século XX, levou a cabo uma experiência laboratorial sobre a obediência na Universidade de Yale, nos EUA. A investigação foi motivada pela 2ª Guerra Mundial, nomeadamente pelas câmaras de gás que produziram mortes sem sentido, mortes que apelam a que nos sentemos e reflitamos sobre o significado de "banalidade do mal", uma expressão da filósofa Hannah Arendt. Durante o filme, a questão do poder da autoridade é reforçada no momento em que aparecem imagens da condenação do ex SS Adolf Eichmann (que alegou ser obediente ao regime de Hitler até ao fim).
O foco da experiência de Milgram era este: perceber até que ponto os participantes na experiência carregariam num botão que despoletava descargas elétricas a um 'aluno' - que era, para o 'professor', um desconhecido - sempre que este respondia incorretamente a uma questão (note-se que esse 'aluno' - era sempre o mesmo - sofria de uma doença cardíaca). O resultado foi impressionante: nenhuma das pessoas que encarnou o papel de 'professor' se recusou a participar, mesmo sabendo que estaria a dar choques a outrem; 65% dos participantes aplicou a descarga máxima; nenhum dos participantes teve a iniciativa de se levantar e ir espreitar, à outra sala da experimentação, como é que se encontrava o 'aluno' (se ele ainda estaria sequer a respirar). Apesar de ter havido suor, nervosismo e até irritação, a obediência dos participantes àquilo que lhes tinha sido pedido no início da experiência foi mais forte.
O que esta história nos conta é, no mínimo, preocupante e levanta questões éticas de suma relevância. Até onde é que um ser humano consegue ir quando lhe é dada uma ordem? E como é que essa pessoa consegue prescindir tão rapidamente do seu dever de responsabilização pelos seus semelhantes? Pela experiência, parece que a existência de um agente de autoridade que nos ordena suspende a nossa consciência moral. O problema é que é essa vertente humana que nos distingue e define. Afinal, não somos autómatos. Não podemos, pura e simplesmente, fazer uma epoché do nosso 'eu moral'.
Enquanto realizador desta obra cinematográfica, Michael Almereyda denota uma grande preocupação em lembrar-nos (ou relembrar-nos) de que não vivemos no mundo isoladamente; vivemos com o outro e para o outro. Talvez por isso tenha optado por cenários estanques, papéis de parede que não representam, mas antes apresentam a realidade na qual habitamos. Talvez por isso também tenha optado por deixar a distância entre a personagem principal do filme e nós, espectadores, mais curta (Peter Sarsgaard fala inúmeras vezes diretamente para a câmara). Considero que tais opções foram, sem dúvida, profundamente inteligentes.
Aprendamos, pois, com esta história e com este filme que, de forma pertinente, chama a atenção para a seguinte ideia do filósofo existencialista Kierkegaard: "life can only be understood backwards, but it must be lived forwards".
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