Imagem retirada de: http://tjjumawancnsasmedia.blogspot.pt/2011/11/kill-bill-vol-1-2003-quentin-tarantino.html
Em “Catching Characters’ Emotions: Emotional
Contagion Responses to Narrative Fiction Films”, a professora de Filosofia Amy
Coplan começa por alertar para o facto de, ao vermos um filme, experienciarmos
o mesmo tipo de emoções que as personagens experienciam. Este tipo de ‘mimetismo’
(mimicry) é resultado do ‘contágio
emocional’ (emotional contagion – EC),
“um processo afetivo automático e involuntário que ocorre quando observamos
outras experiências emotivas” (Coplan, 2006: 26; trad. minha). Tal contágio é
um aspeto significativo do nosso envolvimento, enquanto espectadores, com os
filmes e isto, essencialmente, por duas razões: 1) EC requer um compromisso
sensorial direto e envolve processos automáticos, algo que não acontece, por
exemplo, com as narrativas literárias; 2) EC não envolve crenças ou imaginação,
apenas processos automáticos e involuntários que escapam ao controlo da
consciência. Isto faz com que a experiência do contágio emocional do cinema
seja praticamente igual à experiência real de contágio emocional (cf. ibidem). Aliás, os filmes podem até ser
capazes de produzir um EC maior do que aquele que temos no quotidiano uma vez
que o realizador possui um aparato de técnicas. Carl Plantinga, filósofo que
Coplan refere no seu artigo, explicou algumas dessas técnicas aquando da sua
discussão sobre a ‘scene of empathy’ – por exemplo, focar o
rosto de uma personagem durante o período de tempo suficiente para chamar a
atenção do espectador para a experiência emocional interior dessa mesma
personagem (neste sentido, Coplan dá o exemplo da cena de abertura de Kill Bill 1, de Quentin Tarantino - ver imagem supra). Urge perguntar que ‘tempo suficiente’ é esse – um minuto? Vinte
minutos? Uma hora? E será esse tempo igual para todos os espectadores? Será que
os mecanismos de feedback são
ativados em todos os seres humanos de igual forma?
Voltando à tese de
Coplan sobre o EC, é importante anunciar que a mesma parece deveras
interessante se atentarmos no facto de quase todos os grandes teóricos da
corrente cognitiva sobre o cinema preocuparem-se com respostas 'mais
sofisticadas' (a expressão é da autora) sobre a emoção nos filmes – respostas como a empatia, a simpatia, a simulação ou até a identificação imaginativa. Plantinga, por exemplo, sugere que o EC
é um tipo de empatia ou uma parte da empatia. Não obstante, a empatia envolve
cognição, até mesmo um certo sentido de realidade (‘cognitive sense of reality’). Diz Coplan que, quando um espectador
sente empatia com uma personagem, ele também assume a perspetiva psicológica da
personagem, o que inclui precisamente o tal sentido de realidade (cf. idem, 31). Mas, mais uma vez, o EC não
envolve quaisquer pensamentos, crenças, julgamentos.
Segundo Coplan, os
trabalhos sobre as emoções no espectador de cinema tendem a enfatizar o
potencial educativo das reações emocionais. Não obstante, se, de facto, existem
filmes que visam transmitir algum tipo de conhecimento (veja-se o género
documental), há outros que não o fazem (ainda assim, será que um filme
experimental como Study in Color and
Black and White, de Stan Brakhage, serve apenas para ser visto e não pensado?). A autora de que aqui falamos acredita que, “de
qualquer forma, o contágio emocional é melhor entendido como experiencial do
que como instrutivo” (idem, 35; trad. minha). Para Coplan, o nosso compromisso com
as ficções audiovisuais são mais afetivas e menos cognitivas do que o nosso
compromisso emocional com ficções literárias. Nesse sentido, os filmes estão
mais próximos da vida real do que a literatura. Será isto verdade?
Referência Bibliográfica: Coplan, A. (2006). Catching Characters’ Emotions: Emotional Contagion Responses to Narrative Fiction Film, Film Studies, 8, 26-38.
Sem comentários:
Enviar um comentário