domingo, 26 de março de 2017

"A Bela e o Monstro" (2017). Para além das aparências.



Pontuação: 8/10

M/12 | 2h09 min. | Fantasia, Musical

Título original: Beauty and the Beast
Realizador: Bill Condon
Escrito por: Stephen Chbosky, Evan Spiliotopoulos
Estrelado por: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Kevin Kline, Emma Thompson, Ewan McGregor



"I want adventure in the great-wide somewhere,
I wanted more than I can tell...
And for once in might be grand to have someone understand,
I want so much more than they've got planned!" (Bela)

"Think of the one thing that you've always wanted.
Now find it in your mind's eye and feel it in your heart" (Monstro)



Trazer novamente ao grande ecrã um clássico com tantos anos de existência é um desafio que exige reflexão, maturidade, coragem. E cuidado. Muito cuidado. Fazer um remake não é, de todo, uma tarefa fácil, desde logo porque o elemento ‘criatividade’ se queda, naturalmente, mais perto do plano do inatingível. Bill Condon, o realizador de Dream Girls (2006), respeitando o argumento e usufruindo das possibilidades do digital, conseguiu reavivar em nós a paixão por A Bela e o Monstro.
Todos conhecemos a história da jovem destemida, curiosa, perspicaz, sonhadora e estranha aos olhos dos outros que, por forma a salvar o seu pai da clausura, acaba por se fazer prisioneira de um monstro, num castelo frio e moribundo que só conhece o inverno. Falamos de ‘Bela’ (Emma Watson) que, por culpa dos livros que lê e do espírito progressista que a sustenta, consegue ver para além das aparências, captando mesmo a bondade de uma criatura de olhar triste e sombrio que já perdeu a esperança de voltar a ser príncipe e de ver o sol raiar no seu jardim (falamos, claro, do ‘Monstro’, interpretado por Dan Stevens).

O pai de 'Bela', 'Maurice' (Kevin Kline) e 'Bela' (Emma Watson)

A Bela e o Monstro apareceu no cinema, pela primeira vez, em 1946, através de Jean Cocteau. Baseando-se no conto de fadas de Jeanne-Marie Le Prince de Beaumont e no filme do já referido intelectual surrealista, a Walt Disney acabou por apresentar esta obra como o seu 30º clássico, no ano de 1991, através da realização de Gary Trousdale e Kirk Wise.


A Bela e o Monstro (1946), de Jean Cocteau

A Bela e o Monstro (1991), de Gary Trousdale e Kirk Wise

É normal que, antes de ir assistir a este remake, o espectador receie que vá ao cinema perder tempo. Mas a verdade é que o filme de Condon merece ser visto, desde logo porque preserva o coração daquela que foi uma das histórias da nossa infância disneyana - o essencial está lá, quer ao nível da música (Alan Menken), um dos seus grandes motores, quer ao nível da narrativa (o feitiço da rosa, por exemplo, tem o destaque que lhe é merecido). O guarda-roupa de Jacqueline Durran não desilude e toda a componente visual deste A Bela e o Monstro em live-action merece ser apreciada e amada, pois é absolutamente deslumbrante (a cena do primeiro jantar de 'Bela' no castelo, por exemplo, surge em planos cheios de cor e de ritmos com sentido).
No que respeita ao elenco, a escolha não poderia ter sido mais certeira: Emma Watson aparece segura e autêntica no papel de 'Bela', uma personagem que tem semelhanças indiscutíveis consigo (Watson é, como se sabe, uma acérrima defensora de causas feministas, autora de discursos como este: "Feminismo é sobre dar às mulheres a opção de escolherem. (...) É sobre liberdade, libertação, igualdade"). Já as vozes de Ewan McGregor, de Emma Thompson e de Ian Mc Kellen, que dão vida ao candelabro 'Lumière', ao bule 'Mrs. Potts' e ao relógio 'Cogsworth', respetivamente, ditam de forma exímia discursos que provocam em qualquer espectador atento uma série de gargalhadas genuínas.

O relógio (Ian Mc Kellen), o bule (Emma Thompson) e o candelabro (Ewan McGregor), três das personagens que animam A Bela e o Monstro de Bill Condon

Infelizmente, o novo A Bela e o Monstro tem merecido um maior destaque na imprensa nacional e internacional por causa do empregado de 'Gaston' (Luke Evans) 'LeFou', interpretado por Josh Gad, o protagonista do primeiro momento gay do mundo Disney (momento esse que serviu de justificação ao cancelamento da exibição desta película em algumas salas de cinema de outros países). Numa declaração à revista Attitude, Condon explicou que: "LeFou é alguém que um dia quer ser como o Gaston e no outro quer beijar o Gaston. Está confuso sobre aquilo que quer, é alguém que ainda está a perceber os seus sentimentos. E Josh Gad [que protagoniza LeFou] interpreta algo completamente subtil e delicioso”.* Na verdade, estamos perante uma tentativa de 'modernização' do clássico que não acrescenta absolutamente nada à história original e que apenas proporciona olhares demasiado forçados e desnecessários.

'Gaston' (Luke Evans) e 'LeFou' (Josh Gad), os protagonistas do primeiro momento gay da história da Disney


De resto, o filme de Bill Condon cumpre o objetivo de qualquer filme de fantasia: o espectador esquece o mundo real e embarca numa viagem incrível por um mundo de formas e de sons que nos põe a sorrir da mesma forma que sorrimos em 1991.



*Cf.http://observador.pt/2017/03/02/o-primeiro-momento-gay-da-disney-na-bela-e-o-monstro// (consultado a 27.03.2017).

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