segunda-feira, 13 de março de 2017

O que há de comum entre Eisenstein e Brian De Palma?

 

O Couraçado Potemkine (1925)

1h15 min. | Drama, História

Título original: Bronenosets Potyomkin
Realizado por: Sergei Eisenstein
Escrito por: Nina Agadzhanova

Estrelado por: Aleksandr Antonov, Vladimir Barsky, Grigori Aleksandrov


Os Intocáveis (1987)

M/16 | 1h59 min. | Crime, Drama, Thriller

Título original: The Untouchables
Realizado por: Brian De Palma
Escrito por: Oscar Fraley, Eliot Ness, David Mamet
Estrelado por: Kevin Costner, Sean Connery, Robert De Niro


Foi em 1925 que surgiu um dos filmes mais aclamados de todos os tempos: O Couraçado Potemkine, de Sergei Eisenstein, um espelho do motim do couraçado Potyomkin, ancorado em Odessa. Alicerçada sobre uma ideologia profunda, esta obra consegue compaginar a dramaturgia enquanto aspeto fundamental do cinema com os impactos essenciais providos de inovações técnicas como a montagem. 
À semelhança de uma tragédia clássica, O Couraçado Potemkine encontra-se dividido em cinco partes: 1) “Homens e Vermes”; 2) “O Drama do Castelo da Popa”; 3) “O Sangue Clama Vingança”; 4) “A Escadaria de Odessa”; 5) “Azáfama do Combate”. Podemos dizer que a vida a bordo, o motim, a morte, a violência, a dor e, sobretudo, as duras condições de vida do povo russo sob a alçada do Czar são os principais elementos que compõem a sua narrativa. 
Os Intocáveis, de Brian De Palma, chegou em 1987. A obra conta com Kevin Costner, Robert de Niro e Sean Connery nos principais papéis (um faz de agente do FBI, o outro de chefe da máfia e o outro de polícia). A história é simples: trata-se de um retrato biográfico de Eliot Ness centrado nas suas tentativas de colocar Al Capone (um gangster ítalo-americano que liderou um grupo criminoso dedicado ao contrabando, durante o período da Lei Seca, nos EUA) na prisão, um retrato que tem como fundo uma banda sonora composta por Ennio Morricone que nos consegue transportar, realmente, para Chicago.

Imagem de Os Intocáveis (1987)

Com este thriller, o cineasta americano tentou homenagear Eisenstein e a famosa cena da escadaria de Odessa, uma das mais lembradas, citadas, amadas e odiadas do mundo da sétima arte. É impossível falarmos do cinema soviético dos anos 20 sem relembrar, desde logo, as imagens chocantes da quarta parte de O Couraçado Potemkine (imagens como a que se segue):

Imagem de O Couraçado Potemkine (1925) - a escadaria de Odessa

Eisenstein acreditava que uma das funções do cinema era mexer com as emoções dos espectadores (leiam-se os artigos que compõem O Sentido do Filme e A Forma do Filme, ambos traduzidos para português). Através do uso de técnicas de montagem inovadoras (o travelling lateral, p. ex.), o cineasta russo conseguiu que ninguém ficasse (e que fique, ainda hoje) indiferente ao seu primeiro filme. A cena da escadaria de Odessa é frenética mas, ao mesmo tempo, parece demasiado demorada. Nela, o horror segue-se ao horror. Se pensávamos que o clímax tinha sido atingido aquando daquele close-up da mão pisada do rapaz da camisola branca, depressa nos apercebemos que seremos confrontados com algo ainda mais duro: o plano que se lhe segue mostra-nos uma mãe a ser baleada e a empurrar, involuntariamente, o carrinho do seu bebé, que desce, degrau a degrau, circundado por corpos e rostos de pânico (ver imagem infra):

Imagem de O Couraçado Potemkine (1925) - a escadaria de Odessa

É precisamente esta cena do carrinho de bebé que aparece no filme de Brian De Palma. Não obstante, o realizador de Os Intocáveis não recorre à freneticidade de Eisenstein, mas sim à técnica do slow motion, um recurso comummente usado para causar tensão no espectador. Neste caso, tensão e recordação.

Imagem de Os Intocáveis (1987) - homenagem  de De Palma à cena da escadaria de Odessa

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