Pontuação: 6.5/10
M/12 | 2h14 min. | Biografia, Drama, Música
Título original: Bohemian Rhapsody
Realizador: Bryan Singer, Dexter Fletcher
Escrito por: Anthony McCarten, Peter Morgan, Anthony McCarten
Estrelado por: Ramy Malek, Lucy Boynton, Gwilym Lee
"Being human is a condition which requires an anesthetic"
- Freddie Mercury.
Quando vi Bohemian Rhapsody no cinema não conhecia, na altura, quase nada das vidas dos elementos dos intemporais Queen. Fui na ignorância, esperando, com isso, aprender algo sobre a famosa banda (sim, o cinema também pode ser, a meu ver, um meio não meramente lúdico, mas instrutivo), em particular sobre o seu vocalista Freddy Mercury. A verdade é que fiquei encantada com a película. Encantada desde a primeira cena à cena final (ainda que tenha achado algo exagerado passar na íntegra a atuação dos britânicos no Live Aid – um concerto de solidariedade para com o problema da fome em África ocorrido em 1985). Entretanto, quis escrever uma crítica sobre o filme em questão e comecei a pesquisar mais sobre os Queen e sobre a obra cinematográfica em si. Hoje, sinto-me desiludida e até um pouco atraiçoada. Afinal, este trabalho pouco ou nada me ensinou.
Comecemos pela relação entre Freddy Mercury (brilhantemente interpretado por Ramy Malek, em cima) e “Mary Austin” (intepretada por Lucy Boynton, em cima). Bohemian Rhapsody faz-nos acreditar que esta rapariga de ar celestial foi o grande amor da vida do cantor (e, de facto, ela foi crucial na vida dele, tanto que até teve direito à belíssima música “Love of My Life”). No entanto, pelo meio do noivado com “Mary”, “Freddy” teve casos com outras mulheres que são caídas no esquecimento. Também a relação entre o vocalista e “Jim Hutton” (Aaron McCusker) é completamente secundarizada – este homem só aparece nos minutos finais do filme e não lhe é dada, de todo, a devida importância (note-se que foi com ele que “Freddy” viveu até ao fim da sua vida).
Outras omissões importantes: “Freddy” aparece como sendo o primeiro a tentar lançar-se numa carreira a solo e é visto pelo restante grupo musical como um traidor, mas, na verdade, o baterista “Roger Taylor” (Ben Hardy) - o real supervisionou mesmo a banda sonora deste filme, juntamente com o guitarrista Brian May - já tinha lançado dois discos sozinho. E disso... ninguém fala.
Finalmente, por forma, talvez, a levar ao clímax o envolvimento emocional do espectador, o filme sugere que “Freddy” havia sido diagnosticado com HIV antes do concerto do Live Aid, mas, na realidade, pensa-se que a mesma doença só terá sido descoberta em 1987, ou seja, dois anos depois do referido espetáculo. É normal (e isso é algo que todos compreendemos, porque o cinema também é uma arte que quer emocionar, exaltar, arreliar...) que os cineastas modifiquem um ou outro pormenor nas histórias de cariz biográfico. Mas não é normal que as adulterem desta forma (chegamos a um ponto em que já não sabemos, de facto, em que é que podemos acreditar, se é que podemos acreditar em alguma coisa!). Se o filme é biográfico, então tem que seguir as biografias das suas personagens com o mínimo de rigor.
Incongruências à parte, o que é que se salva nesta obra que começou a ser realizada por Bryan Singer e terminou com o trabalho de Dexter Fletcher (pouco ou nada mencionado)? Algumas coisas importantes: o trabalho de guarda-roupa e de maquilhagem; a edição sonora; as eternas músicas dos Queen que não nos cansamos de ouvir; e a interpretação de Ramy Malek, possível vencedor do Óscar de Melhor Ator, este ano. O seu preciosismo é inacreditável! Já se deram ao trabalho de ver a sua postura e as suas feições durante o concerto supra mencionado ao lado da postura e das feições do verdadeiro Freddy? É de arrepiar. É mesmo.
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