Pontuação: 7,5/10
M/18 | 1h35 min. | Comédia, Crime, Drama
Título original: C'est arrivé près de chez vous
Realizado por: Rémy Belvaux, André Bonzel, Benoît Poelvoorde
Escrito por: Rémy Belvaux (story), Rémy Belvaux, André Bonzel, Benoît Poelvoorde e Vincent Tavier (screenplay)
Estrelado por: Benoît Poelvoorde
C'est arrivé près de chez vous é um filme belga que oferece ao espectador uma mescla de comédia,
crime, drama e horror durante cerca de uma hora e meia. A obra segue o serial killer "Ben" (Benoît Poelvoorde), um homem
extremamente carismático que fala diretamente para a câmara e que,
constantemente, se vangloria de todos os crimes horrendos, nojentos e sem
sentido que comete.
O filme enceta com o asfixiamento de uma mulher
num comboio. O motivo para o crime? Nenhum. Na cena posterior, já num cenário
ao ar livre, "Ben" explica como é que se livra das suas vítimas e
fá-lo detalhadamente, com uma calma e um sentido de humor que angustiam. Os
canais e as pedreiras são os locais de excelência e a quantidade de pedras que
são atadas aos corpos depende, como esclarece o protagonista, do físico dos
mesmos: ora devem perfazer três vezes o seu peso (no caso de adultos), ora duas
(quando os alvos são anões), ora cinco (se se tratar de idosos, aqueles que
"têm os ossos mais porosos").
Se o espectador pensa, porventura, que estamos a conhecer um homem
sem qualquer formação, desengane-se: "Ben" é formado e, a dada
altura, conta, envaidecido, que frequentou o conservatório (foi aí que conheceu
a sua namorada “Valerie”); a música e a arquitetura – quer a mais estética,
quer a mais funcional – são temas a que o assassino em série se refere
frequentemente, assim como a poesia, a arte que está presente no seu espírito na
última cena. É curioso como tudo isto parece tornar a sua imoralidade ainda mais
revoltante: todas as suas atitudes xenófobas, racistas e misóginas são, afinal,
perfeitamente conscientes, refletidas, ponderadas.
Aqui, a violência é a chave e é com ela que temos que aprender a
lidar para não desistir do visionamento desta peça cinematográfica. Mas violência
contra quem? Contra tudo. Contra todos. Apesar de os alvos favoritos de “Ben”
serem os carteiros e os idosos (estes últimos por viverem sozinhos e por terem
mais dinheiro), também assistimos à morte de uma criança (a segunda ou terceira
que o protagonista matou, em 5 anos, e isto porque, nas suas palavras, “o infanticídio
não atrai; as crianças valem pouco”). É durante este assassinato que sentimos
vontade de culpabilizar também o repórter, os operadores de câmara e os técnicos
de som, pois, apesar de, durante a maior parte do drama, se “limitarem” a
documentar o que sucede (notem-se as aspas no verbo), é chegado o momento em
que também eles sujam as suas mãos.
C'est arrivé près de chez vous, vencedor do International Critics’ Prize do Festival de Cannes
de 1993, não é, de todo, um filme fácil e nem o facto de ser a preto e branco
faz com que o sangue das vítimas de “Ben” pareça menos vermelho.
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