quarta-feira, 3 de maio de 2017

"O Jardim da Esperança" (2017). Uma Varsóvia cinzenta.


Pontuação: 7/10

M/14 | 2h07 m. | Biografia, Drama, História

Título Original: The Zookeeper's Wife
Realizado por: Niki Karo
Escrito por: Angela Workman, baseado no livro de Diane Ackerman
Estrelado por: Jessica Chastain, Johan Heldenbergh, Daniel Brühl


“Talvez seja por isso que amo tanto os animais. Se olhar nos olhos deles
saberá exatamente o que se passa nos seus corações” - “Antonina Zabinski”.

Baseado no livro de Diane Ackerman (Ed. Presença), O Jardim da Esperança traz-nos a história de um casal que, em plena Segunda Guerra Mundial, decide colocar-se numa situação de risco para salvar judeus. Parece que Niki Karo acertou em cheio na escolha dos atores protagonistas: Jessica Chastain (que sotaque incrível!), Johan Heldenbergh e Daniel Brühl representam "Antonina Zabinski", "Jan Zabinski" e "Lutz Heck", respetivamente, e têm performances brilhantes: desde as palavras que proferem aos olhares que cruzam, tudo neles é exímio. É importante ressalvar ainda a prestação de Timothy Radford que aparece competente no papel do pequeno "Ryszard Zabinski".
"Antonina" e "Jan" são os donos do jardim zoológico de capital da Polónia. É precisamente com imagens deste que o filme de Karo enceta: desde a abertura dos portões aos sorrisos dos que entram para ver os animais, tudo leva a crer que estamos inseridos num cenário de pura felicidade. Mas essa imagem idílica depressa se dissolve: ao nascimento de um elefante (tão bem filmado, tão maravilhoso...) segue-se a morte de tantos outros seres bombardeados pelos aviões de guerra alemães. Estamos em 1939, o ano da Grande Guerra.
Se o bombardeamento anteriormente referido é um dos pontos altos desta película - tal como a cena da violação no gueto e o diálogo entre "Antonina" e "Urszula" (Shira Haas), na cela da cave dos "Zabinski" -, os restantes minutos parecem, todos eles, demasiado comedidos. Cremos que deveriam, precisamente, ser o oposto: afinal, estamos perante a história de uma mulher e de um homem que parecem nutrir um amor infinito tanto pelos da sua espécie como pelos animais não-humanos, um amor que não encontra barreiras, um amor sem medos e sem cobardia... Um amor que vale per se.


"Traz tantos quantos puderes". Se há frase que poderia sintetizar este filme é esta. É isto que "Antonina" pede ao seu marido: que ele salve tantos judeus quanto possível do gueto e que os traga para o zoo, o lugar que dantes pertencia aos animais e que agora pertence a homens que foram tratados como lixo pelos da raça ariana. São muitas as obras que lembram o genocídio judaico - só no cinema temos A Lista de Schindler, A Chave de Sarah, O Pianista... É certo que nenhuma delas juntou o horror humano (ou desumano) ao horror não humano. Mas também é verdade que este filme de Karo não suscita no espectador mais atento o tremor e a dor que era suposto suscitar (a forma como o casal consegue enganar, não raras vezes, os oficiais alemães afasta-se e muito da realidade). Uma banda sonora não tão piano também ajudaria...
De qualquer forma, se acreditarmos que o cinema pode servir como um lugar para a reflexão sobre a nossa condição no mundo e as nossas atitudes, então, O Jardim da Esperança merece uma oportunidade. Estamos perante uma obra que retrata (ainda que longe da perfeição) a forma como dois simples mortais conseguiram salvar 300 judeus no seio de uma Varsóvia cheia de cinzas. Uma Varsóvia do início dos anos 40 do século XX da qual, diga-se, é ofertado, aqui, um excelente retrato histórico. Pelo menos, ficamos com uma ideia do quão devastada foi a capital polaca.

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