sexta-feira, 19 de maio de 2017

"O Filho de Saul" (2015). Em busca da moral perdida.


Pontuação: 10/10
M/16 | 107 min. | Drama, Guerra

Título original: Saul fia
País: Hungria
Realizado por: László Nemes (como Nemes László)
Escrito por: László Nemes (como Nemes László) e Clara Royer
Estrelado por: Géza Röhrig, Levente Molnár, Urs Rechn


Abraham: Who's this boy?
Saul: My son.
Abraham: But you have no son.
Saul: I do. I have to bury him.
Abraham: You don't need a rabbi for that.
Saul: At least he'll do what's right.

O Filho de Saul (2015) deu ao realizador húngaro László Nemes o Grande Prémio do Júri e o Prémio da Crítica Internacional no Festival de Cannes de 2015, bem como o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro, no ano seguinte. Este reconhecimento é absolutamente merecido, pois esta obra vem provar que o tema do Holocausto, comummente tratado no mundo do cinema, não está, de todo, esgotado.
Esta longa-metragem reporta-nos até ao ano de 1944. Estamos em Auschwitz (Polónia) e “Saul Ausländer” (interpretado por Géza Röhrig) é um dos membros do Sonderkommando – o nome dado a um grupo de prisioneiros que executava as tarefas mais duras dos campos de concentração, tarefas que os alemães evitavam a todo o custo. Em troca de mais tempo de vida, estes homens tinham que esfregar o chão imundo das câmaras de gás e enterrar os corpos dos seus companheiros.
Logo no início da obra, ouvimos a respiração de um miúdo que sobrevive a uma cremação, uma respiração que finda com a mão de um nazi que termina o que a câmara de gás não conseguiu terminar. “Saul” apercebe-se do sucedido e tenta ficar com o corpo do jovem por forma a proporcionar-lhe um enterro digno. Apesar do risco que corre, o húngaro não desiste de procurar um rabino e de salvar a alma de alguém que foi uma das muitas vítimas da podridão humana. Este filme é, pois, sobre uma missão praticamente impossível. Não obstante, a forma como Nemes filma faz com que nos coloquemos no lugar do protagonista e há momentos em que chegamos a pensar que, se calhar, é possível fazer um pequeno milagre.
A lente de 40mm foi uma das estratégias escolhidas pelo realizador para despoletar envolvimento emocional no público e a ausência de banda sonora torna o ambiente ainda mais realista. Choros, gritos, respirações ofegantes – é isso que ouvimos durante o filme. É “só” isso. Os close-ups do rosto de “Saul” são frequentes e a câmara não fixa faz-nos correr numa tentativa desesperada de obter um mínimo de redenção para a raça humana. Se o objetivo de Nemes era transportar-nos até ao horror de Auschwitz, então, a missão foi muitíssimo bem-sucedida. Ver O Filho de Saul é uma experiência que ultrapassa o meramente cinemático – é uma experiência de vida que nos assola, afoga (na última parte, quase literalmente), entristece.
Inteligente, profundo, humano. Demasiado humano. É isso que este filme é. Estamos perante um retrato de um homem que tenta a todo o curso ressuscitar a moralidade perdida nas cinzas de crematórios que cheiram a nojo. A redenção está no enterro de um menino que sobreviveu ao gás Zyklon B. Um menino que era, sem dúvida, filho de “Saul”. De “Saul” e de todos nós.

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