terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

"I, Tonya" (2017). Uma Vida Gelada.


Pontuação: 7/10

M/16 | 2h00 | Biografia, Comédia, Drama

Realizado por: Craig Gillespie
Escrito por: Steven Rogers
Estrelado por: Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney


There's no such thing as truth. It's bullshit.
Everyone has their own truth,
and life just does whatever the fuck it wants.
- Tonya Harding


I, Tonya é mais um filme baseado em factos verídicos que mereceu a atenção da Academia de Hollywood sobretudo pelas prestações de Margot Robbie e Allison Janney, ambas nomeadas para os Óscares de "Melhor Atriz" e "Melhor Atriz Secundária", respetivamente. Acaba por ser uma película pertinente, principalmente nos dias de hoje, pois relembra-nos que desporto não é apenas futebol.



A nova obra de Craig Gillespie traz ao grande ecrã a história de "Tonya Harding" (Margot Robbie no seu melhor projeto, até hoje), uma jovem que, desde cedo, deu muitos frutos no seio da patinagem artística (bons e maus, dada a sua personalidade um tanto ou quanto tempestuosa). Além da vertente artística da personagem, o filme também nos coloca frente a frente com a violência verbal (que chegou a ser também física) da qual "Tonya" foi vítima, quer por parte da sua mãe, profundamente obsessiva (Allison Janney encarna o papel de progenitora diabólica na perfeição e merece o Óscar, no próximo dia 4 de março - ver imagem infra), quer por parte do seu marido "Jeff" (Sebastian Stan). Aliás, 'violência' é a palavra-chave deste drama que acaba por ter como clímax a agressão que a rival da personagem principal sofreu enquanto se preparava para os Jogos Olímpicos de 1994.


Estamos perante um projeto que merece o nosso aplauso no que à seleção musical e às filmagens no ringue diz respeito, mas que acaba por perder, e muito, com os vários cortes a que os depoimentos das personagens centrais obrigam. Não é que eles não sejam importantes para dar um pingo de realismo à história. Porém, o seu tom satírico é demasiado exagerado e a sua entrada é, não raras vezes, inconveniente e até irritante.


I, Tonya é um filme com duas prestações absolutamente fantásticas, mas com muitas cenas que não tiveram a merecida continuidade.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

"A Hora mais Negra" (2017). Filme de um só homem.


Pontuação: 6/10

M/12 | 125 min. | Drama

Título original: Darkest Hour
Realizado por: Joe Wright 
Escrito por: Anthony McCarten
Estrelado por: Gary Oldman, Lily James, Kristin Scott Thomas


W. Churchill: "Those who never change
their mind never change anything."

Depois dos badalados Orgulho e Preconceiro, Expiação e Anna Karenina, Joe Wright traz-nos A Hora mais Negra, um filme que se complementa, e bem, com Dunkirk, de Nolan, também nomeado, este ano, para o Óscar de “Melhor Filme”. O argumento, da autoria de Anthony McCarten (A Teoria do Tudo), transporta-nos até 1940, altura em que a Europa atravessa um período negro devido à ascensão de Adolf Hitler e do nazismo. Winston Churchill, um brilhante estadista da época, é convidado a formar governo pelo Rei Jorge VI na sequência da demissão de Neville Chamberlain. Poucos dias depois da sua tomada de possa, o novo primeiro-ministro britânico vê-se obrigado a tomar uma decisão perante o seguinte dilema: ou assina, em nome do seu país, um tratado de paz com a Alemanha, ou declara guerra ao inimigo e luta pela liberdade dos seus.



Estamos perante um filme de diálogos, de palavras, de discursos. Nele, não há lugar para planos de ação. Também não há lugar para atores, apenas para um, porque na memória só nos fica Gary Oldman e a sua interpretação absolutamente estonteante. A sua fala, as suas expressões, a sua forma de fumar charutos, o seu andar, enfim, tudo nos lembra Churchill. O Óscar de “Melhor Ator” do próximo dia 4 de março é praticamente garantido e merecido.
Já no que respeita ao rigor histórico, esta obra merece um mero “suficiente”. Existem deturpações da realidade em prol das plateias “hollywoodescas”, sedentas de artefactos romanescos: a secretária de Churchill, "Elizabeth" (interpretada por Lily James), surge de forma completamente instrumental; no fundo, serve apenas para mostrar que o homem que esteve à frente do Reino Unido entre 1940 e 1945 tinha sentimentos. Porém, a cena mais grave é mesmo aquela em que Churchill consegue escapar dos seus seguranças e apanha o Metro (não, ele nunca o fez). É difícil não ficarmos comovidos com a forma como o político dialoga com os passageiros que o circundam, mas depressa a comoção dá lugar à desilusão. Quando falamos de filmes históricos, queremos retratos históricos fiéis. E A Hora mais Negra está longe da fieldade necessária.


Posto isto, estamos perante um filme de um só homem: Gary Oldman. Os 6/10 são para ele e para o excelente trabalho de caracterização, maquilhagem e cabelo. De resto, não há muito a aproveitar desta película.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

BAFTA 2018 - Os Vencedores

Imagem de THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI, vencedor do BAFTA de "Melhor Filme"

Melhor Filme

CALL ME BY YOUR NAME
DARKEST HOUR 
DUNKIRK
THE SHAPE OF WATER 
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI 

Melhor Realizador
BLADE RUNNER 2049 -Denis Villeneuve
CALL ME BY YOUR NAME -Luca Guadagnino
DUNKIRK - Christopher Nolan
THE SHAPE OF WATER - Guillermo del Toro
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI - Martin McDonagh

Melhor Atriz
ANNETTE BENING Film Stars Don’t Die in Liverpool
FRANCES McDORMAND Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
MARGOT ROBBIE I, Tonya
SALLY HAWKINS The Shape of Water
SAOIRSE RONAN Lady Bird

Melhor Ator
DANIEL DAY-LEWIS Phantom Thread
DANIEL KALUUYA Get Out
GARY OLDMAN Darkest Hour
JAMIE BELL Film Stars Don’t Die in Liverpool
TIMOTHÉE CHALAMET Call Me by Your Name

Melhor Atriz Secundária
ALLISON JANNEY I, Tonya
KRISTIN SCOTT THOMAS Darkest Hour
LAURIE METCALF Lady Bird
LESLEY MANVILLE Phantom Thread
OCTAVIA SPENCER The Shape of Water

Melhor Ator Secundário
CHRISTOPHER PLUMMER All the Money in the World
HUGH GRANT Paddington 2
SAM ROCKWELL Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
WILLEM DAFOE The Florida Project
WOODY HARRELSON Three Billboards Outside Ebbing, Missouri

Melhor Filme Britânico
DARKEST HOUR 
THE DEATH OF STALIN 
GOD’S OWN COUNTRY
LADY MACBETH 
PADDINGTON 2
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI 

Melhor Estreia de um Argumentista, Produtor ou Realizador Britânico
THE GHOUL Gareth Tunley (Writer/Director/Producer), Jack Healy Guttman & Tom Meeten (Producers)
I AM NOT A WITCH Rungano Nyoni (Writer/Director), Emily Morgan (Producer)
JAWBONE Johnny Harris (Writer/Producer), Thomas Napper (Director)
KINGDOM OF US Lucy Cohen (Director)
LADY MACBETH Alice Birch (Writer), William Oldroyd (Director), Fodhla Cronin O’Reilly (Producer)

Melhor Filme Estrangeiro
ELLE Paul Verhoeven, Saïd Ben Saïd
FIRST THEY KILLED MY FATHER Angelina Jolie, Rithy Panh
THE HANDMAIDEN Park Chan-wook, Syd Lim
LOVELESS Andrey Zvyagintsev, Alexander Rodnyansky
THE SALESMAN Asghar Farhadi, Alexandre Mallet-Guy

Melhor Documentário
CITY OF GHOSTS Matthew Heineman
I AM NOT YOUR NEGRO Raoul Peck
ICARUS Bryan Fogel, Dan Cogan
AN INCONVENIENT SEQUEL Bonni Cohen, Jon Shenk
JANE Brett Morgen

Melhor Filme Animação
COCO Lee Unkrich, Darla K. Anderson
LOVING VINCENT Dorota Kobiela, Hugh Welchman, Ivan Mactaggart
MY LIFE AS A COURGETTE Claude Barras, Max Karli

Melhor Argumento Original
GET OUT Jordan Peele
I, TONYA Steven Rogers
LADY BIRD Greta Gerwig
THE SHAPE OF WATER Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI Martin McDonagh

Melhor Argumento Adaptado
CALL ME BY YOUR NAME James Ivory
THE DEATH OF STALIN Armando Iannucci, Ian Martin, David Schneider
FILM STARS DON’T DIE IN LIVERPOOL Matt Greenhalgh
MOLLY’S GAME Aaron Sorkin
PADDINGTON 2 Simon Farnaby, Paul King

Melhor Banda Sonora Original
BLADE RUNNER 2049 Benjamin Wallfisch, Hans Zimmer
DARKEST HOUR Dario Marianelli
DUNKIRK Hans Zimmer
PHANTOM THREAD Jonny Greenwood
THE SHAPE OF WATER Alexandre Desplat

Melhor Cinematografia
BLADE RUNNER 2049 Roger Deakins
DARKEST HOUR Bruno Delbonnel
DUNKIRK Hoyte van Hoytema
THE SHAPE OF WATER Dan Laustsen
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI Ben Davis

Melhor Edição
BABY DRIVER Jonathan Amos, Paul Machliss
BLADE RUNNER 2049 Joe Walker
DUNKIRK Lee Smith
THE SHAPE OF WATER Sidney Wolinsky
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI Jon Gregory

Melhor Design de Produção
BEAUTY AND THE BEAST Sarah Greenwood, Katie Spencer
BLADE RUNNER 2049 Dennis Gassner, Alessandra Querzola
DARKEST HOUR Sarah Greenwood, Katie Spencer
DUNKIRK Nathan Crowley, Gary Fettis
THE SHAPE OF WATER Paul Austerberry, Jeff Melvin, Shane Vieau

Melhor Guarda-Roupa
BEAUTY AND THE BEAST Jacqueline Durran
DARKEST HOUR Jacqueline Durran
I, TONYA Jennifer Johnson
PHANTOM THREAD Mark Bridges
THE SHAPE OF WATER Luis Sequeira

Melhor Maquilhagem e Cabelo
BLADE RUNNER 2049 Donald Mowat, Kerry Warn
DARKEST HOUR David Malinowski, Ivana Primorac, Lucy Sibbick, Kazuhiro Tsuji
I, TONYA Deborah La Mia Denaver, Adruitha Lee
VICTORIA & ABDUL Daniel Phillips
WONDER Naomi Bakstad, Robert A. Pandini, Arjen Tuiten

Melhor Som
BABY DRIVER Tim Cavagin, Mary H. Ellis, Julian Slater
BLADE RUNNER 2049 Ron Bartlett, Doug Hemphill, Mark Mangini, Mac Ruth, Theo Green
DUNKIRK Richard King, Gregg Landaker, Gary A. Rizzo, Mark Weingarten
THE SHAPE OF WATER Christian Cooke, Glen Gauthier, Nathan Robitaille, Brad Zoern
STAR WARS: THE LAST JEDI Ren Klyce, David Parker, Michael Semanick, Stuart Wilson, Matthew Wood

Melhor Efeitos Especiais
BLADE RUNNER 2049 Gerd Nefzer, John Nelson
DUNKIRK Scott Fisher, Andrew Jackson
THE SHAPE OF WATER Dennis Berardi, Trey Harrell, Kevin Scott
STAR WARS: THE LAST JEDI Nominees tbc
WAR FOR THE PLANET OF THE APES Nominees tbc

Melhor Curta-Metragem de Animação Britânica
HAVE HEART Will Anderson
MAMOON Ben Steer
POLES APART Paloma Baeza, Ser En Low

Melhor Curta-Metragem Britânica
AAMIR Vika Evdokimenko, Emma Stone, Oliver Shuster
COWBOY DAVE Colin O’Toole, Jonas Mortensen
A DROWNING MAN Mahdi Fleifel, Signe Byrge Sørensen, Patrick Campbell
WORK Aneil Karia, Scott O’Donnell
WREN BOYS Harry Lighton, Sorcha Bacon, John Fitzpatrick

Prémio EE RISING STAR (votado pelo público)
DANIEL KALUUYA
FLORENCE PUGH
JOSH O’CONNOR
TESSA THOMPSON
TIMOTHÉE CHALAMET

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

"Linha Fantasma" (2017). Elegantemente cosido.



Pontuação: 8.5/10

M/12 | 2h10 min. | Drama, Romance

Realizado por: Paul Thomas Anderson
Escrito por: Paul Thomas Anderson
Estrelado por: Vicky Krieps, Daniel Day-Lewis, Lesley Manville


"Dr. Robert Hardy": “He's a very demanding man, isn't he?
 Must be quite a challenge to be with him...”
“Alma”: "Yes. Maybe he is the most demanding man".




O novo filme do subvalorizado realizador Paul Thomas Anderson retrata a Londres do pós 2ª Guerra Mundial. Estamos nos anos 50 do século XX, altura em que “Reynolds Woodcock” (Daniel Day-Lewis) e “Cyril Woodcock” (Lesley Manville) dominavam a moda so british, vestindo a realeza, o estrelato e até grandes nomes internacionais. Toda a obra é sobre elegância, toda ela cose elegância. São os pormenores e os detalhes ornamentais que fazem de Linha Fantasma aquilo que o filme é: uma pedra preciosa.

Anderson demarca-se de forma sublime enquanto realizador e diretor de fotografia deste drama. O que mais destacamos é, sem dúvida, a forma como nos aparecem as luzes e as cores, assim como os maravilhosos e intensos close-ups, quer do rosto de “Woodcock”, quer do rosto de “Alma” (Vicky Krieps), a jovem por quem o estilista se apaixona perdidamente – ao ponto de abandonar inconscientemente a perfeição que outrora pintava o seu trabalho. Há ainda que mencionar e aplaudir a banda sonora omnipresente de Jonny Greenwood que acompanha a história e que em momento algum é exagerada ou inadequada. Pelo contrário: cada música encaixa-se na perfeição.


Para além da realização, da técnica, da fotografia e da banda sonora, temos que destacar a performance dos atores principais de Linha Fantasma: se este for, de facto, o último papel de Daniel Day-Lewis, o ator sai em grande. O que vemos no grande ecrã é um homem obcecado pelo trabalho, apaixonado, exigente e impaciente (até o barrar da manteiga nas torradas o incomoda!), severo e vulnerável, ao mesmo tempo. E também dependente: dependente da sua irmã “Cyril”, cujo olhar não mata, mas mói (é de notar que Manville está, e muito bem, nomeada para o Óscar de Melhor Atriz Secundária por este papel). Depois, temos Krieps, a inteligente e persistente “Alma”, uma personagem que encarna tudo aquilo que o amor é e não é. Não obstante a magnanimidade deste trio, o agradecimento final deve ser feito a Anderson, que deu a cada personagem o devido tempo para brilhar.



Linha Fantasma é uma das grandes surpresas dos Óscares 2018 e está nomeado em 6 categorias: “Melhor Filme”, “Melhor Realizador”, “Melhor Ator”, “Melhor Atriz Secundária”, “Melhor Guarda-Roupa” (talvez seja este o único ao seu alcance) e “Melhor Banda Sonora Original”. Ao nível da estética cinematográfica, parece-nos difícil pedir mais do que aquilo que esta obra oferece. Já no que à narrativa diz respeito, parece que ficou algo por dizer. Ou então foi a monstruosidade dos minutos finais que nos impediu de dar nota 10.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Próximas Estreias (15 de fevereiro de 2018)

15:17 Destino Paris (2018),
de Clint Eastwood


O novo filme de Clint Eastwood conta a história verídica de três jovens americanos que evitaram um ataque terrorista num comboio com destino a Paris. Foram salvas, por eles, mais de 500 pessoas.


Black Panther (2018),
de Ryan Coogler


Mais um êxito da Marvel. Pantera Negra conta a história de "T'Challa", que volta a Wakanda, a sua casa, para subir ao trono na sequência da morte do seu pai. Mas surge um inimigo e a sua força enquanto rei é testada...


Alias María (2015),
de José Luis Rugeles


A história de "Maria", uma criança-soldado de 13 anos de idade que é recrutada pela guerrilha e que tem como missão entregar em segurança um bebé recém-nascido, numa cidade vizinha.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

"A Forma da Água" (2017). Uma Paixão Improvável.


Pontuação: 8,5/10

M/16 | 2h03 min. | Aventura, Drama, Fantasia

Título original: The Shape of Water
Realizado por: Guillermo del Toro
Escrito por: Guillhermo del Toro e Vanessa Taylor
Estrelado por: Sally Hawkins, Octavia Spencer, Michael Shannon, Richard Jenkins

If we do nothing, neither are we.
"Elisa" (em linguagem gestual).

Uma ode à diferença e um elogio ao cinema. É assim que caracterizamos o novo filme de Guillermo del Toro, A Forma da Água. Vencedor do Festival de Veneza 2017, esta obra transporta-nos até aos anos 60 do século XX, altura em que se desenrolava a Guerra Fria. Vemos, espelhada no grande ecrã, a não amistosidade entre americanos e russos, dois povos que correm, entre outras coisas, por um triunfo espacial magistral. No entanto, essa hostilidade está longe de ser a cereja no topo do bolo: afinal, não estamos perante uma história de guerra, mas sim perante uma história de amor. Aliás: perante um conto de fadas.
A obra de del Toro enceta com um pedido que é feito por um narrador ao espectador: vamos conhecer uma princesa sem voz. Quem será ela? Só a podemos descobrir se deixarmos para trás todo e qualquer preconceito, mais, se abrirmos o coração e deixarmos de considerar que a diferença é sempre feia e malévola.
"Elisa" (interpretada por Sally Hawkins, nomeada para o Óscar de "Melhor Atriz Principal") é a tal "princesa sem voz", uma empregada de limpeza de um laboratório de segurança máxima em Baltimore, EUA. A calmaria do seu trabalho finda quando, ao laboratório, chega um anfíbio capturado nas águas da América do Sul que acaba por ser mantido em cativeiro e submetido a vários experimentos laboratoriais. Quando se apercebe de que os cientistas, nomeadamente o vilão "Strickland" (interpretado por Michael Shannon), querem usar a criatura como cobaia num programa espacial, "Elisa" decide salvá-lo e, para isso, recorre à ajuda de "Giles" (Richard Jenkins) e "Zelda" (Octavia Spencer) (ver imagem infra), duas personagens que transpiram amizade e ternura. A parte do salvamento é, talvez, a pior do filme (ou será a daquele beijo final que lembra imediatamente os desenhos animados da Disney?), pois tudo é previsível e acontece num timing demasiado perfeito. Não obstante, não nos parece que haja mais defeitos a atribuir a esta obra.


Hawkins não é tão poderosa como Frances McDormand em Três Cartazes à Beira da Estrada, mas não deixa de merecer a nomeação da Academia de Hollywood. Ao contrário do que se imagina, a sua interpretação não revela fragilidade, infantilidade, inocência. Pelo contrário: "Elisa" é erótica e corajosa. Aquele momento em que pergunta ao seu vizinho, através de linguagem gestual, "o que sou eu? Mexo a minha boca, como ele. Não emito qualquer som, como ele..." arrepia, faz-nos pensar e acreditar. Depois, há todas aquelas palavras que saem dos seus movimentos calados que dizem tanto (veja-se a imagem infra, em que a personagem como que acaricia as gotas da chuva). 


Haverá alguém ou algum momento que sobressaia mais no filme do que "Elisa"? Por acaso, até há. Falamos, claro, daquela cena maravilhosa, romântica, sublime, retirada dos musicais dos anos 30: o momento a preto e branco em que a personagem principal dança com o seu amado, momento esse que, ofertando ao espectador o que de melhor o cinema tem, nos deixa com um sorriso nos lábios e uma lágrima no canto do olho.
Nomeado para 13 Óscares, incluindo o de "Melhor Guarda-Roupa" (cujo responsável é o luso-descendente Luís Sequeira) A Forma da Água é um misto de delicadeza, erotismo e violência que promete arrecadar algumas estatuetas douradas nas categorias mais técnicas (e, aqui, temos uma favorita: a de "Melhor Fotografia". Dan Laustsen deve ser aplaudido de pé, pois fez um trabalho exímio. Este filme nunca seria o mesmo sem os tons verdes, azuis e vermelhos que o pintam).

Próximas Estreias (8 de fevereiro de 2018)

Todo o Dinheiro do Mundo (2017),
de Ridley Scott



10 de julho de 1973. Um jovem de 16 anos é raptado em Roma, Itália. Pedem-se 17 milhões de dólares em troca da vida do rapaz. Um thriller baseado no livro biográfico Painfully Rich: The Outrageous Fortunes and Misfortunes of the Heirs of J. Paul Getty, de John Pearson, e protagonizado por Michelle Williams, Christopher Plummer e Mark Wahlberg.


As Estrelas não Morrem em Liverpool (2017), 
de Paul McGuigan


Setembro de 1981. Um drama sobre uma mulher que tem cancro na mama e que pede a um jovem com quem viveu um romance que a leva para a sua casa de família em Liverpool. Com Annette Bening e Jamie Bell.


Amor, Amor (2017),
de Jorge Cramez


Lisboa, 31 de dezembro. Uma história de amores e desamores protagonizada por Jaime Freitas, Eduardo Frazão, Ana Moreira, Margarida Vila-Nova e Joana de Verona.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

"The Post" (2017). Nem Streep nem Hanks o salvam.


Pontuação: 6.5/10

M/12 | 1h56 min. | Drama, Biografia, História

Título original: The Post
Realizado por: Steven Spielberg
Escrito por: Liz Hannah, Josh Singer
Estrelado por: Meryl Streep, Tom Hanks, Matthew Rhys


Ben Bradlee: So, can I ask you a hypothetical question?
Katharine Graham: Oh, dear. I don't like hypothetical questions.
Ben Bradlee: Well, I don't think you're gonna like the real one, either.


Baseado numa história verídica, The Post traz à liça a história dos Pentagon Papers, documentos que mostraram que houve vários presidentes americanos a mentir sobre o que se passou na Guerra do Vietname com receio de uma iminente humilhação.
A obra enceta com o analista militar “Daniel Ellsberg” (interpretado por Matthew Rhys) (ver a primeira imagem infra), que esteve em campo, a copiar secretamente milhares de páginas de relatórios de um estudo que foi feito sobre a referida guerra, estudo esse que prova que a Casa Branca passou muito tempo a enganar o povo americano. Apesar de ter sido o jornal New York Times a expor, primeiramente, o conteúdo desses mesmos relatórios, foi o Washington Post (ver a segunda imagem infra) que levou para a frente a investigação, comprometendo, seriamente, a palavra e o poder de Nixon, o presidente americano da altura. Os responsáveis pela redação do escândalo foram “Katharine Graham” (interpretada por Meryl Streep), a primeira mulher a liderar um jornal norte-americano, e “Ben Bradlee” (interpretado por Tom Hanks), o editor desesperado por ficar à frente da concorrência em matérias políticas.




Steven Spielberg está de regresso com uma obra que tem pontos positivos: a sua direção artística e a sua fotografia são excelentes, bem como a interpretação dos atores principais (mas aqui não há grande novidade, pois não?). Não obstante, há muitos diálogos sem sentido, o final é completamente desnecessário e o ritmo demasiado acelerado do drama não nos permite saborear o que ele tem de melhor. Acontece tudo tão depressa que não temos tempo para nos afeiçoarmos às personagens e aos conteúdos abordados, conteúdos, diga-se, de extrema pertinência e atualidade (a liberdade de imprensa, a defesa dos direitos da mulher...). Mesmo à la Hollywood, portanto.
Nomeado para o Óscar de “Melhor Filme” e “Melhor Atriz Principal” (é a 21ª nomeação de Meryl Streep), o novo filme do realizador de A Ponte dos Espiões (2015) fica muito aquém das expectativas (demasiado elevadas, talvez, devido aos nomes que o circundam).