quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

"A Forma da Água" (2017). Uma Paixão Improvável.


Pontuação: 8,5/10

M/16 | 2h03 min. | Aventura, Drama, Fantasia

Título original: The Shape of Water
Realizado por: Guillermo del Toro
Escrito por: Guillhermo del Toro e Vanessa Taylor
Estrelado por: Sally Hawkins, Octavia Spencer, Michael Shannon, Richard Jenkins

If we do nothing, neither are we.
"Elisa" (em linguagem gestual).

Uma ode à diferença e um elogio ao cinema. É assim que caracterizamos o novo filme de Guillermo del Toro, A Forma da Água. Vencedor do Festival de Veneza 2017, esta obra transporta-nos até aos anos 60 do século XX, altura em que se desenrolava a Guerra Fria. Vemos, espelhada no grande ecrã, a não amistosidade entre americanos e russos, dois povos que correm, entre outras coisas, por um triunfo espacial magistral. No entanto, essa hostilidade está longe de ser a cereja no topo do bolo: afinal, não estamos perante uma história de guerra, mas sim perante uma história de amor. Aliás: perante um conto de fadas.
A obra de del Toro enceta com um pedido que é feito por um narrador ao espectador: vamos conhecer uma princesa sem voz. Quem será ela? Só a podemos descobrir se deixarmos para trás todo e qualquer preconceito, mais, se abrirmos o coração e deixarmos de considerar que a diferença é sempre feia e malévola.
"Elisa" (interpretada por Sally Hawkins, nomeada para o Óscar de "Melhor Atriz Principal") é a tal "princesa sem voz", uma empregada de limpeza de um laboratório de segurança máxima em Baltimore, EUA. A calmaria do seu trabalho finda quando, ao laboratório, chega um anfíbio capturado nas águas da América do Sul que acaba por ser mantido em cativeiro e submetido a vários experimentos laboratoriais. Quando se apercebe de que os cientistas, nomeadamente o vilão "Strickland" (interpretado por Michael Shannon), querem usar a criatura como cobaia num programa espacial, "Elisa" decide salvá-lo e, para isso, recorre à ajuda de "Giles" (Richard Jenkins) e "Zelda" (Octavia Spencer) (ver imagem infra), duas personagens que transpiram amizade e ternura. A parte do salvamento é, talvez, a pior do filme (ou será a daquele beijo final que lembra imediatamente os desenhos animados da Disney?), pois tudo é previsível e acontece num timing demasiado perfeito. Não obstante, não nos parece que haja mais defeitos a atribuir a esta obra.


Hawkins não é tão poderosa como Frances McDormand em Três Cartazes à Beira da Estrada, mas não deixa de merecer a nomeação da Academia de Hollywood. Ao contrário do que se imagina, a sua interpretação não revela fragilidade, infantilidade, inocência. Pelo contrário: "Elisa" é erótica e corajosa. Aquele momento em que pergunta ao seu vizinho, através de linguagem gestual, "o que sou eu? Mexo a minha boca, como ele. Não emito qualquer som, como ele..." arrepia, faz-nos pensar e acreditar. Depois, há todas aquelas palavras que saem dos seus movimentos calados que dizem tanto (veja-se a imagem infra, em que a personagem como que acaricia as gotas da chuva). 


Haverá alguém ou algum momento que sobressaia mais no filme do que "Elisa"? Por acaso, até há. Falamos, claro, daquela cena maravilhosa, romântica, sublime, retirada dos musicais dos anos 30: o momento a preto e branco em que a personagem principal dança com o seu amado, momento esse que, ofertando ao espectador o que de melhor o cinema tem, nos deixa com um sorriso nos lábios e uma lágrima no canto do olho.
Nomeado para 13 Óscares, incluindo o de "Melhor Guarda-Roupa" (cujo responsável é o luso-descendente Luís Sequeira) A Forma da Água é um misto de delicadeza, erotismo e violência que promete arrecadar algumas estatuetas douradas nas categorias mais técnicas (e, aqui, temos uma favorita: a de "Melhor Fotografia". Dan Laustsen deve ser aplaudido de pé, pois fez um trabalho exímio. Este filme nunca seria o mesmo sem os tons verdes, azuis e vermelhos que o pintam).

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