"Every time you hear a bell ring, it means that some angel's just got his wings."
Nesta altura do ano, apetece rever e amar cada segundo de It's a Wonderful Life (1946),uma obra-prima que o cineasta Frank Capra nos ofereceu. Deixo aos meus queridos leitores o acesso ao filme, no Youtube, com os votos de umas festas muito felizes. Que 2017 seja um ano repleto de saúde, amor, paz e, claro, muitas, muitas imagens em movimento!
Realização: Paul Verhoeven
Baseado no romance de: Philippe Djian
Países: França, Alemanha, Bélgica
Estrelado por: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny
Assistir a Elle é uma espécie de exercício de controlo de respiração. A obra de Verhoeven não nos dá espaço para distrações: o filme começa logo com uma cena de violação, o que contraria a tendência de muitos cineastas de oferecer o clímax das suas histórias a meio ou mesmo no fim das películas. É esse acontecimento que parece despoletar em "Michèle Leblanc" (Isabelle Huppert) uma vontade de vingança, muitas vezes camuflada pelo desejo sexual exasperante que a personagem revela ter. Não obstante, também parece legítimo perguntar se essa mesma vontade não estará antes vinculada ao seu pai, responsável por uma chacina no seu bairro? Ou à sua mãe que transparece futilidade? Ou ao seu filho que enveredou pelos caminhos da droga? Seja como for, Huppert é absolutamente maravilhosa. É fria e excitante, sofredora e forte, violenta e perspicaz, tudo ao mesmo tempo. Numa entrevista ao Ipsílon, que saiu no passado dia 18 de novembro de 2016, a atriz confessou mesmo que, durante as filmagens, teve a sensação de "estar completamente nua", porque a fronteira entre ela e o papel era "de tal forma ténue" que tudo parecia estar a acontecer perto de si. O mais incrível é que, apesar de termos consciência de que este filme é dela, da "Michèle" imoral, também sentimos espaço para questionar as razões das outras personagens. Creio que o principal objetivo de Verhoeven era precisamente oferecer aos espectadores uma obra onde a pergunta pelos motivos que conduziram à ação fosse constante. E está de parabéns, pois se há filme onde o 'porquê' surge é neste.
Deixo-vos aqui o trailer desta obra que merece realmente ser vista:
Apesar de, hoje, considerarmos o som como uma espécie de elemento natural do filme, uma leitura de Rudolf Arnheim impele a que questionemos a relevância da sua presença. Tal como contestou o cinema a cores, este psicólogo chamou a atenção, na sua obra magna sobre a sétima arte, Film as Art, para o facto de os talkies tenderem a enfatizar um único elemento: a fala. O cinema mudo dos anos 20 foi o único que conseguiu mostrar a importância do visível, compreendendo que o filme não tem necessariamente que 'falar' para revelar determinados acontecimentos. Arnheim deu, a título de exemplo, o tiro de As Docas de Nova Iorque, de 1928. Na obra de Joseph Sternberg é o voo dos pássaros que nos faz perceber que houve o disparo de um revólver. Recorrendo às palavras do próprio Arnheim, "o levantar dos pássaros é extraordinariamente eficaz e, provavelmente, mais do que se, na realidade, ouvíssemos o detonar da pistola. E aqui entra outra factor: o espectador talvez não deduz simplesmente que houve um tiro mas, de facto, vê qualquer coisa inerente às propriedades do som - o alarme, a agitação dos pássaros que levantam voo, representa visualmente as propriedades acústicas do tiro" (Arnheim, em Film as Art, 1957 - pág.89 na tradução portuguesa).
Será, então, o som um elemento imprescindível ao filme?
Caros Leitores, Segue o resumo da minha comunicação para o próximo Colóquio de Outono subordinado ao tema "Utopias, Distopias e Heteropias", a decorrer entre os dias 17 e 18 de novembro de 2016, no ILCH, Universidade do Minho, Braga:
“A Distopia no Cinema: Fahrenheit
451, de François Truffaut”
Pensa-se
que o termo ‘distopia’ terá sido cunhado pelo filósofo John Stuart Mill
(1806-1873), em 1868, em Inglaterra, aquando de uma discussão sobre a política
governamental da Irlanda. Etimologicamente, a palavra expressa um lugar de dor,
infelicidade ou privação e, no campo das artes, surge como uma espécie de
advertência a certas tendências que distanciam o ser humano de ideais como, por
exemplo, o ideal de liberdade. Fahrenheit
451, de 1966, realizado pelo cineasta francês François Truffaut (1932-1984)
e inspirado no romance de Ray Bradbury (1920-2012), escrito em plena Guerra Fria,
apresenta-se como uma obra cinematográfica que coloca o espectador
frente-a-frente com uma sociedade americana futura, profundamente capitalista e
consumista, na qual não existe espaço para a literatura ou para o debate. Nela,
a televisão apresenta-se, numa linguagem marxista, como o novo ópio do povo; já os livros são
considerados profundamente subversivos e, por isso, devem ser queimados pelos ‘fireman’ (a autoridade). Ao apresentar
um método de controlo ideológico de massas, típico dos sistemas totalitários, o
referido filme apela, portanto, a que façamos uma reflexão sobre as
consequências de um lugar onde a censura, a repressão política e a
superficialidade da imagem se sobrepõem a uma humanidade livre e esclarecida.
Sara
Tiago Gonçalves
FCT, CEHUM, Departamento de
Filosofia da Universidade do Minho, Braga, Portugal
M/6 | Comédia, Romance | 56 min. Título Original: Seven Chances Ano: 1925 Realizado por: Buster Keaton Escrito por: Roi Cooper Megrue, Clyde Bruckman Estrelado por: Buster Keaton, Ruth Dwyer, T. Roy Barnes Pontuação no ImDb: 8/10 | A minha pontuação: 9,5/10
Buster Keaton (1895-1966), ator e realizador americano, considerado o grande rival de Charlie Chaplin, deixou-nos uma obra brilhante intitulada Seven Chances. O filme conta a história de "Jimmy Shannon", um jovem a quem é deixada uma herança de 7 milhões de dólares mediante a seguinte condição imposta pelo avô: para receber o dinheiro, "Shannon" deverá estar casado até às 19 horas do dia do seu 27º aniversário. O problema é que a notícia é-lhe dada a poucas horas desse acontecimento. Há que correr contra o relógio. Após a bonita "Mary" recusar a sua proposta de casamento, a personagem principal do filme tenta a sua sorte com uma de sete raparigas. E eis que o humor grita através de sucessivas fugas e quedas, quedas e fugas. Essas são mais do que sete.
Aqui fica o acesso ao filme, que está disponível no Youtube:
Deixo-vos o link do resumo da comunicação que fiz, no passado dia 3 de novembro de 2016, no Congresso de Filosofia e Cinema intitulado "The Real of Reality", no ZKM, em Karlsruhe, na Alemanha:
Documentário | 65 min. Realizado por: Éric Rohmer País: França Ano: 1968
Uma conversa entre Henri Langlois, fundador da Cinemateca Francesa e responsável pela preservação de filmes dos Irmãos Lumière, e o cineasta Jean Renoir. Excelente forma de ficar a conhecer um pouco mais sobre os inventores do cinematógrafo.
Pontuação no ImDb: 6,4/10 | A minha pontuação: 9/10
M/12 | Terror | 1h21m.
Título original: The Blair Witch Project
País: EUA
Realizado por: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez
Escrito por: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez
Estrelado por: Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard
Blair Witch (2016)
Pontuação no ImDb: 5,4/10 | A minha pontuação: 8,5/10
M/16 | Terror | 1h29m.
Título original: Blair Witch
País: EUA
Realizado por: Adam Wingard
Escrito por: Simon Barrett
Estrelado por: James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid
"If you are a fan of the first movie then you should enjoy this. It goes over territory which you will be familiar with from the first film and expands on the myths" (by IFL HORROR, in http://www.imdb.com/title/tt1540011/?ref_=nv_sr_1).
PG-13 | Drama, Ficção Científica, Thriller | 106 min.
Título original: Gattaca Ano: 1997 País: EUA
Realizado por:Andrew Niccol
Escrito por: Andrew Niccol
Elenco: Ethan Hawke, Uma Thurman, Jude Law
Proposta de trabalho (adequada para uma turma de 11º ano de Filosofia, para a unidade VI. Desafios e Horizontes da Filosofia - 1. A filosofia e os outros saberes | 1.3. Tema / Problema do mundo contemporâneo):
Analise o filme tendo em conta o seguinte guião para a sua interpretação:
1. Identifique as personagens principais.
2. "Vincent" é considerado inválido. Explique porquê.
3. Por que razão é que "Anton" dá ao seu segundo filho e não a "Vincent" o seu nome próprio?
4. Qual é o objetivo do verdadeiro "Jerome"?
5. O que é "Gattaca"?
6. Enuncie os problemas filosóficos subjacentes ao filme.
7. Concorda com a ideia de que a ciência pode provocar, de alguma forma, discriminações entre as pessoas? Justifique.
Para debater depois do visionamento do filme: "Cada pessoa é o resultado das interações complexas entre o seu património genético e o meio onde habita".
Andy Warhol nasceu em 1928, em Pittsburgh, no seio de uma família de emigrantes eslavos. De 1945 a 1949, estudou Artes Gráficas Aplicadas e, após obter o diploma do Carnegie Institute of Technology, instalou-se em Nova Iorque. Foi aí que começou a trabalhar em ilustração e publicidade para revistas como a conceituada Vogue. Foi essencialmente na década de 60 que o artista Pop começou a pintar e a elaborar serigrafias sobre tela (Latas de Sopa Campbell's, rostos de famosos como Marilyn Monroe ou Elvis Presley,...). Foi também por essa altura que Warhol se anunciou como cineasta experimental.
A expressão 'cinema experimental' abrange diversos estilos cinematográficos que têm em comum o facto de se diferenciarem e/ou até de se oporem às práticas e ao estilo da sétima arte mais comercial. Normalmente, os filmes experimentais caracterizam-se pela ausência de uma narrativa linear - e, muitas vezes, de som - e pelo uso de diversas técnicas de abstração. Estas características estão presentes nos filmes deste artista. Como explica Graig Uhlin, num artigo intitulado "Tv, Time, and the Films of Andy Warhol", as suas obras cinematográficas "are usually situated within avant-garde and art-historical traditions - the realism of the New Cinema, the influence of John Cage and other avante-garde music and dance movements, the traditions of minimalism and Pop Art" (Uhlin, 2010: 2).
Nos primeiros filmes de Warhol, não há enredo nem diálogo, apenas uma vontade de mostrar tudo o que se atravessa à frente da câmara: em Henry Geldzahler, de 1964, vemos o curador Henry Geldzahler a fumar um charuto e, ao longo de 97 minutos, percebemos que ele vai ficando cada vez mais desconfortável; em Sleep, do ano anterior, assistimos ao poeta John Giorno, amigo íntimo de Warhol, na altura, a dormir durante cinco horas e vinte minutos; já com Empire, de 1964, vemos Empire State Building, à noite, durante seis horas e meia (ver uma parte do filme infra):
Ao falar do cinema deste artista, devemos referir a influência da TV pois, como o próprio destacou várias vezes, tal meio de comunicação é uma espécie de modelo explicativo para as suas obras cinematográficas, principalmente durante o período a preto e branco. O filme Bufferin, de 1966, confronta-nos com uma leitura de poesia por parte de Gerard Malanga, "seems to mime the structure of a television program, where narrative action is interrupted by commercial braks" (idem, 8-9). De notar que em Soap Opera, de 1964, as imagens do drama doméstico também são interrompidas por anúncios televisivos.
A verdade é que o trabalho deste artista espelha-se como uma forma de protesto. Existe na sua arte uma preocupação, uma chamada de atenção para os perigos do consumo, da trivialidade e da banalidade que reinam hoje em dia. Esse é, aliás, um dos aspectos que atravessa a obra dos artistas da chamada Pop Art (que tem como uma das suas figuras principais, precisamente, Warhol), um movimento que se associa à superficialidade que caracteriza sociedades capitalistas e tecnológicas que privilegiam o consumismo exacerbado.
Referência: Uhlin, Graig (2010). Tv, Time and the Films of Andy Warhol. In Cinema Journal, 49, 3, pp.1-23.
Adaptado de Andy Warhol e o Espelho do Banal (trabalho final realizado no âmbito do curso livre de Fotografia e Cinema org. pelo Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, entre março e abril de 2016).
Pontuação: 7,4/10 (ImDb). | Pontuação dada por mim: 8/10 (ImDb).
A história que este filme conta é simples: num vale da Islândia, dois
irmãos, que vivem lado a lado, mas que não se falam há cerca de 40 anos, vivem
para tratar das suas ovelhas. O drama surge quando, na sequência de um
concurso, "Gummi" (Sigurjónsson) apercebe-se que o carneiro do seu irmão "Kiddi" (Júlíusson) tem uma doença
transmissível que é incurável. As autoridades decidem, então, abater todos os
carneiros e ovelhas do vale por forma a conter o surto. Isto ainda afasta mais
os dois familiares, pois "Kiddi" culpabiliza o irmão por tudo o que está a acontecer
e chega mesmo a disparar uma arma contra a sua casa. A maior tristeza de "Kiddi" é saber que a linhagem da qual tratou durante uma vida e que era única irá
desaparecer. A sua existência revela-se sem sentido e, por mais do que uma vez,
este pastor avista o fim de muito perto. O sentido só renasce quando ele descobre o que o irmão fez, sozinho... Sem querer
entrar em mais pormenores, o que se segue a esta descoberta é arrepiante: todo
um amor, que há muito estava camuflado por brigas e invejas, vem ao de cima. E nós,
espectadores, vêmo-lo renascer através de uma fotografia absolutamente estonteante
onde reina todo um branco islandês que despoleta sensações tão dicotómicas como frio e
calor, medo e esperança, ódio e afeto. Despidos de raiva, os dois
protagonistas desta obra demonstram, não com palavras (aliás, o filme não é
de muitas palavras), mas com gestos e respirações aceleradas, o pouco-muito que
resta de nós quando a morte ameaça sair da sombra. Estamos perante uma lição. De vida. E de cinema.
Título original: Study in Color and Black and White
A curta de Stan Brakhage Study in Color... (que é, nada mais, nada menos, que película de 35 mm. pintada pelo próprio Brakhage) faz-nos refletir sobre a seguinte questão: o que é que faz de um filme um filme?
M12 | 1h38m. | Biografia, Drama, História
Título: Experimenter: Stanley Milgram, O Psicólogo que Abalou a América
Título original: Experimenter
Realizador: Michael Almereyda
Escrito por: Michael Almereyda
País: EUA
Protagonizado por: Peter Sarsgaard, Winona Ryder
"There was a time, I suspect, when men and women could give a fully human response to any situation. When we could be fully, absorbed in the world as human beings. But more often, now, people don't get to see the whole situation but only some small part of it. There's a division of labor, and people carry out small, narrow, specialized jobs, and we can't act without some kind of direction from on high. I call this 'the agentic state'. The individual yields to authority, and in doing so becomes alienated from his own actions." ("Stanley Milgram", interp. por Peter Sarsgaard).
Experimenter coloca-nos frente-a-frente com o psicólogo de origem judaica Stanley Milgram que, no início dos anos 60 do século XX, levou a cabo uma experiência laboratorial sobre a obediência na Universidade de Yale, nos EUA. A investigação foi motivada pela 2ª Guerra Mundial, nomeadamente pelas câmaras de gás que produziram mortes sem sentido, mortes que apelam a que nos sentemos e reflitamos sobre o significado de "banalidade do mal", uma expressão da filósofa Hannah Arendt. Durante o filme, a questão do poder da autoridade é reforçada no momento em que aparecem imagens da condenação do ex SS Adolf Eichmann (que alegou ser obediente ao regime de Hitler até ao fim).
O foco da experiência de Milgram era este: perceber até que ponto os participantes na experiência carregariam num botão que despoletava descargas elétricas a um 'aluno' - que era, para o 'professor', um desconhecido - sempre que este respondia incorretamente a uma questão (note-se que esse 'aluno' - era sempre o mesmo - sofria de uma doença cardíaca). O resultado foi impressionante: nenhuma das pessoas que encarnou o papel de 'professor' se recusou a participar, mesmo sabendo que estaria a dar choques a outrem; 65% dos participantes aplicou a descarga máxima; nenhum dos participantes teve a iniciativa de se levantar e ir espreitar, à outra sala da experimentação, como é que se encontrava o 'aluno' (se ele ainda estaria sequer a respirar). Apesar de ter havido suor, nervosismo e até irritação, a obediência dos participantes àquilo que lhes tinha sido pedido no início da experiência foi mais forte.
O que esta história nos conta é, no mínimo, preocupante e levanta questões éticas de suma relevância. Até onde é que um ser humano consegue ir quando lhe é dada uma ordem? E como é que essa pessoa consegue prescindir tão rapidamente do seu dever de responsabilização pelos seus semelhantes? Pela experiência, parece que a existência de um agente de autoridade que nos ordena suspende a nossa consciência moral. O problema é que é essa vertente humana que nos distingue e define. Afinal, não somos autómatos. Não podemos, pura e simplesmente, fazer uma epoché do nosso 'eu moral'.
Enquanto realizador desta obra cinematográfica, Michael Almereyda denota uma grande preocupação em lembrar-nos (ou relembrar-nos) de que não vivemos no mundo isoladamente; vivemos com o outro e para o outro. Talvez por isso tenha optado por cenários estanques, papéis de parede que não representam, mas antes apresentam a realidade na qual habitamos. Talvez por isso também tenha optado por deixar a distância entre a personagem principal do filme e nós, espectadores, mais curta (Peter Sarsgaard fala inúmeras vezes diretamente para a câmara). Considero que tais opções foram, sem dúvida, profundamente inteligentes. Aprendamos, pois, com esta história e com este filme que, de forma pertinente, chama a atenção para a seguinte ideia do filósofo existencialista Kierkegaard: "life can only be understood backwards, but it must be lived forwards".
Um filme comovente que relata um amor de verão que marcou a bailarina 'Marie' para sempre. O drama conta com belas paisagens, silêncios com sentido, planos de rosto à moda de Bergman e diálogos que nos fazem pensar na existência.
Deixo-vos um relato emocionante da personagem principal: "I don't believe God exists. And if he does, I hate him. And I'll never stop hating him. If he stood before me, I'd spit in his face. I'll hate hum for as long as I live. I won't forget. I'll hate him till the day I die." - 'Marie'
Na vida, podemos sempre optar por olhar para a arte primeiro a fim de ver a realidade de um modo novo ou até de tomarmos consciência dela pela primeira vez. Browning alertou-nos para isto com os belos versos que se seguem:
"...nature is complete Suppose you reproduce her - (which you can't) There's no advantage! You must beat her then For, don't you mark, we're made so that we love First when we see them painted, things we have passed Perhaps a hundred times nor cared to see; And so they are better, painted..."
Robert Browning, "Fra Lippo Lippi", versos 297-303
"Todas as mulheres me impressionam: velhas, novas, grandes, pequenas, gordas, magras, espessas, pesadas, leves, feias, belas, encantadoras, torpes, vivas ou mortas. Gosto também das vacas, das macacas, das suínas, das cadelas, das mulas (...). Mas a categoria feminina que mais aprecio é a dos bichos selvagens e dos répteis perigosos. Há mulheres que detesto. Gostaria de matar uma ou duas, ou então deixar-me matar por elas. O mundo das mulheres é o meu universo. Talvez me mova mal nele, mas nenhum homem pode verdadeiramente gabar-se de saber desenvencilhar-se nele por completo".
Ingmar Bergman a propósito do que um jornalista sueco escreveu
("Bergman é demasiado sábio a respeito das mulheres").
No passado dia 22 de abril de 2016, tive o prazer de proferir uma comunicação no III CONGRESSO INTERNACIONAL DE
FILOSOFIA GREGA, organizado pela Sociedade Ibérica de Filosofia Grega, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A mesma procurou pensar uma possível relação existente entre a Alegoria da Caverna de Platão e a Sétima Arte; entre os prisioneiros e os espectadores de cinema.
Deixo aqui o resumo da mesma:
Apesar de o cinema, tal
como hoje o conhecemos, ter nascido apenas em 1895, com a invenção do
cinematógrafo pelos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, Platão parece ter
adivinhado, muitos séculos antes, algumas especificidades deste tipo de arte. No
Livro VII da obra A República, o
filósofo grego apresenta-nos uma caverna onde residem prisioneiros que
contemplam imagens projetadas por uma luz artificial, originária do fogo, na
parede. Analogamente, quando vamos ao cinema, quedamo-nos no escuro a observar cenas
que passam no grande ecrã, cenas essas que também provém de luzes oriundas da
técnica.
Não obstante a
“Alegoria da Caverna” fazer-nos lembrar algumas peculiaridades da arte
cinematográfica, existe uma diferença fundamental entre os prisioneiros da
caverna de Platão e nós, espetadores e apreciadores da sétima arte. Esta
torna-se nítida quando Sócrates pergunta a Gláucon: “pensas que (…) eles [os
prisioneiros] tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras
projetadas pelo fogo na parede oposta da caverna?” (515 a). Nesta passagem, a
palavra ‘sombras’ adquire um significado de suma importância, pois remete
para a dicotomia
platónica ‘aparência-realidade’. Na verdade, os prisioneiros
da caverna só vislumbram sombras das Ideias, pelo que não conseguem conhecer o
Bem, o Verdadeiro e o Belo em Si Mesmos.
Os espetadores de cinema, por seu turno, têm a capacidade de optar por uma
visão mais realista ou ilusória dos filmes, consoante a ontologia da imagem em
movimento que reivindiquem. Não descurando as várias teorias existentes sobre o
assunto, traremos à discussão, neste mesmo ponto, dois autores que possuem
posições distintas acerca da natureza do cinema: o
crítico francês André Bazin, que defende uma perspetiva realista da sétima arte
(alegando que a essência desta reside no seu poder de expor as realidades), e o
pensador alemão Rudolf Arnheim, que opta por uma visão formalista (aquela que
crê que o cinema só é arte quando procura formas próprias de expressão, isto é,
formas de organização da iluminação, dos gestos ou da composição, por exemplo; segunda
esta perspetiva, o cinema é autêntico não quando imita a realidade, mas sim
quando a manipula, dando assim lugar à ilusão e à imaginação).
Posto isto, podemos
asseverar que o objetivo da presente comunicação consiste em pensar nos vários sentidos
que as palavras ‘realidade’ e ‘ilusão’ podem adquirir após uma leitura atenta
do Livro VII da obra A República e
ainda após uma análise das duas ontologias da imagem em movimento supramencionadas.
Desta forma, esperamos tornar mais compreensível a dissemelhança entre os
prisioneiros da caverna de Platão e os espetadores de cinema.
No link que segue abaixo, podem assistir ao filme La jetée, de Chris Marker (1921-2012), um conceituado cineasta, fotógrafo e escritor francês. Eis como o artista conseguiu fazer cinema através da fotografia, fazendo o espectador embrenhar-se numa história sobre uma viagem no tempo feita num futuro pós-nuclear...
Ficha técnica: 28 min. | Curta, Drama, Romance | França Título original: La jetée Ano: 1962 Realizador: Chris Marker Escrito por: Chris Marker Elenco: Étienne Becker, Jean Négroni, Hélène Chatelain
"There is work that profits children, and there is work that brings profit only to employers. The object of employing children is not to train them, but to get high profits from their work."
Para quem ama o chamado 'filme de rua'. Destaco a alegria e inocência das crianças que, em tempos, não se escondiam em casa; antes faziam jus ao verbo 'brincar'...
Título original: In the Street
Ano original: 1948 / reedição: 1952 (depois de Charlie Chaplin ter visto e ter 'aprovado')
Realização: Helen Levitt
Fotografia: Helen Levitt, James Agee, Janice Loeb
Stanley Kubrick (1928-1999) foi um cineasta e fotógrafo americano. Todos o conhecemos pelos seus grandes clássicos: Spartacus (1960), 2001: A Space Odyssey (1968), A Clockwork Orange (1971), The Shining (1980) ou Eyes Wide Shut (1999). O que se calhar muitos desconhecem é o seu trabalho fotográfico na Nazaré, em 1948... Deixo aqui algumas obras e uma notícia que saiu no Diário de Notícias, em 2010, aquando a exposição em Veneza:
A arte cinematográfica também comporta outros tipos de arte... A pintura é um exemplo. Deste belo quadro do pintor holandês Johannes Vermeer intitulado Het Meisje met de Parel, em exposição no Mauritshuis, Haia...
... nasceu, em 2003, este maravilhoso filme, cheio de luz, de cor, de cumplicidade, de amor...
M/13 | 1h40 m. | Biografia, Drama, Romance
Título original: Girl with a Pearl Earring
Países: Reino Unido, Luxemburgo
Realização: Peter Webber
Escrito por: Tracy Chevalier, Olivia Hetreed
Elenco: Scarlett Johansson, Colin Firth, Tom Wilkinson
Helene Bertha Amalie Riefenstahl (1902-2003), mais conhecida por 'Leni Riefenstahl', nasceu em Berlim e tornou-se uma conhecida cineasta alemã. Tendo iniciado a sua carreira como dançarina, Riefenstahl viu-se obrigada a adotar outra profissão, devido a uma grave lesão que teve no joelho quando ainda era jovem. Estreou-se como atriz em filmes de montanha, estrelando muitas cenas na neve. Conta-se que, certo dia, Hitler assistiu ao filme A Luz Azul e que ficou bastante interessado nos dotes de realização da ex-dançarina, daí ter pedido a Riefenstahl que filmasse o 6º Congresso do Partido Nazi, em Nuremberga, em 1934. Foi assim que nasceu o tão conhecido, amado e, ao mesmo tempo, odiado O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens, no título original):
Para filmar a obra anterior, estiveram com Riefenstahl 170 homens e mais de 18 câmaras. Apesar de a cineasta ter advogado que este não era um filme de propaganda e que apenas se tinha limitado a mostrar o que estava à sua frente, há uma série de jogadas que nos levam a crer que não houve sinceridade nas suas palavras (vejamos, por exemplo, a luz que aponta para o rosto de Hitler quando este discursa ou até mesmo o facto de o avião que o transportava parecer ter caído na Terra de forma algo celestial).
Há, então, que perguntar: devemos valorizar O Triunfo da Vontade enquanto produto estético ou enquanto produto de propaganda? Os autonomistas diriam que estamos perante um filme que deve ser valorizado pela sua forma e pelas suas características. Não obstante, os eticistas responderiam de forma diferente, alegando que esta é uma obra de arte má, porque tem problemas morais (afinal, nela assistimos a uma glorificação de Hitler, figura responsável por inúmeras mortes).
Depois de ter realizado o filme anterior, Riefenstahl realizou Olympia, um filme sobre os Jogos Olímpicos de 1936, que é uma espécie de exaltação do corpo humano (ou da raça ariana):
Depois da 2ª Guerra Mundial, Riefenstahl esteve presa e não teve financiamento para novos projetos cinematográficos. Esse facto vê-la voltar-se para a fotografia...