segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

"Arrival" (2016). Para uma Filosofia da Linguagem.



Pontuação: 8/10

M/12 | 1h56 min. | Drama, Mistério, Sci-Fi

Realizado por: Denis Villeneuve
Escrito por: Eric Heisserer; baseado no conto "Story of Your Life", de Ted Chiang
Estrelado por: Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker

Arrival é um dos filmes mais nomeados, este ano, pela Academia – está indicado nas categorias de “Melhor Filme”, “Melhor Realizador”, “Melhor Argumento Adaptado”, “Fotografia”, “Montagem”, “Design de Produção”, “Edição de Som” e “Mistura de Som”. Apesar de se destacar, de facto, pelos seus aspetos técnicos (até pela bela banda sonora de Jóhann Jóhannsson que, curiosamente, ficou de fora na corrida ao respetivo Óscar), este filme não é apenas forma, cor ou som. É história, uma história envolvente e bem contada.
Quando lemos artigos que nos falam de filmes sobre extraterrestres pensamos logo: “Ó, não, mais um!”. A verdade é que podemos sossegar os nossos corações, porque esta longa-metragem de Denis Villeneuve (realizador de Raptadas, O Homem Duplicado, Sicário – Infiltrado) é muito mais do que um retrato de alienígenas que chegam à Terra com o intuito de fazer os seres humanos tiritar. Mais do que girar em torno de seres estranhos, Arrival é uma espécie de tributo à linguagem e à nossa capacidade de comunicação. São muitas as passagens que nos ficam na memória aquando da ficha técnica, mas há uma que não podia deixar de referir: “Language is the foundation of civilization. It is the glue that holds a people together. It is the first weapon drawn in a conflict” ("Louise").
“Louise Banks” (Amy Adams, brilhante, mas não tanto como em Nocturnal Animals - onde aparece crua e emotiva, ao mesmo tempo), professora numa universidade americana e uma das mais conceituadas linguistas do mundo, acredita peremptoriamente que a linguagem é o berço de todas as civilizações e que é ela mesma que permite que os seres humanos se desenvolvam, se compreendam e se respeitem. Não obstante, apesar de ler e de escrever sobre comunicação, “Louise” aparenta ser uma pessoa extremamente solitária, que vive para as suas aulas e para o vinho tinto servido num único copo com vista para o oceano. Explica a personagem, a dada altura, que “you can understand communication and still end up single”.
A mesmidade dos dias de “Louise” termina quando esta é chamada pelo “Coronel GT Weber” (Forest Whitaker) para integrar uma missão que pode ditar o destino dos habitantes da Terra: tentar, com a ajuda do cientista “Ian” (Jeremy Renner), compreender quais as motivações dos extraterrestres com a sua vinda ao nosso planeta e o porquê de estarem espalhadas 12 naves espaciais no nosso globo, em sítios que, aparentemente, não têm qualquer ponto em comum. É então que começa uma viagem muito especial, uma viagem que é dos protagonistas e de nós, espectadores, que participamos de uma forma surpreendente na construção de uma ponte para o entendimento mútuo. Com a ajuda de “Louise”, da montagem e de todos os outros aspetos técnicos deste filme, somos impelidos a descodificar, a ler nas entrelinhas, a pensar.
É esse o grande mérito de Villeneuve: pôr os nossos pensamentos a correr a uma velocidade difícil de acompanhar. Neste encontro, magnífico encontro, ainda nos é oferecida a oportunidade de viajar no tempo e de respirar fundo perante imagens fantásticas de uma paisagem verdejante. E, como se não bastasse tudo isto, o escritor de Arrival não esquece a hipótese que Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf lançaram na década de 30: uma hipótese que postula que os seres humanos têm universos mentais distintos, universos esses que são profundamente influenciados pelas diferentes línguas que falam. Esta teoria é referida no filme e muito bem. Dá vontade de regressar à Filosofia da Linguagem e a tudo o que ela tem para oferecer no que respeita à árdua e penosa tarefa que é compreender o homem.

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