quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

"Hacksaw Ridge" (2016). Dos Homens Extraordinários.


Pontuação: 8/10

M/16 | 2h19 min. | Drama, História, Guerra

Realizador: Mel Gibson
Escrito por: Robert Schenkkan, Andrew Knight
Estrelado por: Andrew Garfield, Sam Worthington, Luke Bracey

Dez anos depois, Mel Gibson volta a pôr-se do lado de trás das câmaras e o resultado, dificilmente, poderia ser melhor. Nomeado para 7 Óscares da Academia – Melhor Filme, Realizador, Ator Principal, Argumento Adaptado, Montagem, Montagem de Som e Sonoplastia –, Hacksaw Ridge (em português, O Herói de Hacksaw Ridge), apesar de não fugir ao tema predilecto de Gibson (homens que enfrentam tudo e todos em nome das suas convicções; veja-se Braveheart, de 1995, ou A Paixão de Cristo, de 2004), revela boas surpresas.
Falamos de um trabalho que não é apenas mais um filme de guerra. É, sim, uma porta de acesso à coragem, à fé e ao excecionalismo de um homem:“Desmond T. Doss” (numa interpretação notável e, até, surpreendente, de Andrew Garfield, nomeado para o Óscar de Melhor Ator Principal), natural da Virgínia, Adventista do Sétimo Dia e objetor de consciência durante a II Guerra Mundial.
Este filme pode ser dividido em duas partes: numa primeira, conhecemos de perto a história familiar e amorosa de “Doss”. Em apenas 60 minutos, descobrimos-lhe um pai alcoólico, cheio de perdas e de feridas perenes resultantes da sua participação na I Guerra Mundial, uma mãe submissa e uma enfermeira de olhos azuis que se torna, logo à primeira vista, o seu grande amor. É também durante a primeira hora que tomamos conhecimento dos dois momentos traumatizantes que levaram o protagonista a prometer não pegar em armas nem matar seres humanos ou animais (a escolha do ângulo de filmagem durante um jantar da família “Doss” permite-nos ver que havia carne no prato de todos, menos no de “Doss”).
Já a segunda parte de Hacksaw Ridge traz a guerra, os cérebros desfeitos, os membros perdidos pelo campo de batalha de Okinawa e todo aquele sangue carregado que é claramente a marca de Gibson. O realizador recorre algumas vezes à câmara lenta, uma estratégia típica dos filmes do género “Guerra”, mas não o faz de forma exagerada nem tão-pouco para exacerbar violência gratuita. Ou então somos nós que não a conseguimos encontrar por culpa do pacifismo de “Doss”, esse jovem de sorriso fácil que aceitou ir para uma guerra sem se despojar das suas convicções éticas e religiosas.“I don’t know how I’m going to live with myself if I don’t stay true to what I believe”. Eis revelada, nesta citação, a importância que os princípios adquirem na vida de qualquer pessoa.
Alistar-se num exército exige bravura; mas fazê-lo sem a proteção que as armas auferem (ou que parecem auferir) exige muito mais. While everybody is taking life I’m going to be saving it, and that’s going to be my way to serve”. Foi, pois, assim que “Doss” serviu o seu país: salvando colegas (e até inimigos, quando preciso) imundos pelo seu sangue e pelo sangue dos outros.
Exclamando “Please Lord, help me get one more! Help me get one more!”, Desmond T. Doss, o verdadeiro, falecido em 2006, conseguiu salvar 75 homens, ganhar a sua própria guerra, obter uma condecoração e sentir nos olhos dos outros um respeito e admiração infindáveis.
Termino expressando um profundo e sincero agradecimento a Gibson que, através do cinema, nos fez recordar um homem extraordinário.

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