A crítica de Pedro Mexia que aparece no livro Cinemateca, de 2013 (cf. pp.131-133), inspirou-me a revisitar dois filmes cujo foco é a adolescência. Apesar de terem o tema da narrativa em comum (e também um ritmo pausado), The Breakfast Club (em português: O Clube), de 1985, e Elephant (em português: Elefante), de 2003, não podiam ser mais diferentes: se o primeiro, realizado por John Hughes, concentra a ação numa biblioteca onde estão cinco estudantes, a um sábado, de castigo, o segundo, de Gus Van Sant, mostra um dia aparentemente comum na vida dos jovens de uma escola secundária de Portland.
Se na obra de Hughes as personagens acabam por deixar cair as suas máscaras - muito devido ao facto de terem de escrever um texto sobre aquilo que são -, no drama de Van Sant a dissimulação estabelece-se quase até ao fim. Estamos, efetivamente, perante dois retratos do que é a passagem pela adolescência: um misto de paixão, ousadia, medo, saúde, patologia, catástrofes vulgares que merecem que percamos tempo a entendê-las para que o nosso humanismo se enriqueça. Não obstante, as imagens de Elephant atingem-nos com uma maior dureza e brutalidade. É verdade que em The Breakfast Club também estão presentes o tédio e a conflitualidade, mas Hughes não os revela como perigosos (aliás, até os faz aparecer como possíveis potenciadores de diálogo, de compreensão e de reconhecimento - "os problemas dos outros são, afinal, os meus problemas"); já Van Sant faz com que estejamos sempre à espera do pior: a cena dos dois estudantes que colecionam armas e que aguardam a chegada de uma metralhadora causa-nos constantes calafrios. Quase sentimos que, tal como os estudantes daquela escola secundária, também devemos fugir. Fugir para bem longe (infelizmente, as vítimas do Massacre de Columbine, ocorrido em abril de 1999 e no qual se baseia esta obra, não tiveram opção de escolha. Resta-lhes a homenagem que este filme presta).
Escreve Mexia que "vinte anos depois, em Elefante, de Gus Van Sant, o liceu torna-se um ascético travelling de frustrações e sadismo, mas O Clube ainda vive de uma energia optimista sobre o companheirismo e a mudança" (Mexia, 2013: 133). Do primeiro retiramos uma lição: a de que há atos para os quais pura e simplesmente não existe uma explicação lógica. Do segundo extraímos esperança e até um certo saudosismo (quase nos apetece voltar à idade dos 'porquês').
Referência bibliográfica: Mexia, Pedro (2013). "Não te esqueças de mim". In Cinemateca, (pp.131-133). Lisboa: Tinta da China.
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