Imagem retirada de: http://www.instyle.com/reviews-coverage/movies/moonlight
Pontuação: 8/10
M/16 | 1h51 m. | Drama
Realizado por: Barry Jenkins
Escrito por: Berry Jenkins; adaptado da peça de Tarell Alvin McCraneyEstrelado por: Mahershala Ali, Shariff Earp, Duan Sanderson, Naomie Harris
É
praticamente impossível não irmos assistir a Moonlight carregados de elevadas expectativas. Com 264 nomeações e
vencedor, até à data, de 102 prémios, o filme de Barry Jenkins pode vir a ser a
grande estrela da próxima cerimónia dos Óscares. Se merece? Talvez. Se merece mais que os outros? Nem por isso.
O argumento
deste filme está intrinsecamente ligado à história de vida dos seus criadores:
primeiro, porque se baseia na peça de teatro In Moonlight Black Boys Look Blue, de Tarell Alvin McCraney, afro-americano
e gay; segundo, porque o seu realizador Barry Jenkins (esta é apenas a sua
segunda longa metragem), também afro-americano mas não gay, teve uma infância
muito idêntica à da personagem central “Chiron”. Em entrevista à revista E, do Expresso, Jenkins confessou que também era pobre, tinha uma mãe
perturbada e o primeiro amigo branco que teve foi aos 18 anos, quando já andava na universidade.
Mais do que
qualquer elemento – fotografia, montagem, banda sonora (que não é nada má) – é
a narrativa que faz com que este filme mereça ser visto. Dividido em três
partes (com os títulos “Little”, “Chiron” e “Black”, que representam a fase da
infância, a da adolescência e a da adultez de “Chiron”, interpretadas por Alex R.
Hibbert, Ashton Sanders e Trevante
Rhodes, respetivamente), Moonlight assume-se
como espelho da vida de um jovem que, desde pequeno, teve que aprender a lidar
sozinho com uma mãe viciada em drogas (Naomie Harris aparece estrondosa como “Paula”),
um pai ausente (especula-se que “Chiron” tenha sido fruto de um caso de uma
noite só) e um bullying constante por
parte dos seus colegas de escola. A compreensão e o companheirismo chegam
apenas de três personagens que, não sendo família, revelam-se cruciais no seu processo de maturação: “Juan”
(Mahershala Ali) e a sua esposa “Teresa” (Janelle Monáe) acabam por ser os pais
que faltavam, e “Kevin” (Jaden Piner, Jharrel Jerome e André Holland) o único
amigo e amor da vida de “Chiron”, aquele que o desperta para a
sexualidade.
Moonlight tem sido muito aclamado por espelhar
na tela a história de um negro gay, mas não é a primeira vez que isso acontece
no cinema – basta recordarmos, por exemplo, Pariah,
de 2011, realizado por Dee Res, sobre “Alike”, uma adolescente de cor que, à
medida que vai crescendo, não sabe se deve expressar a sua verdadeira tendência
sexual. Esta história não é, portanto, inédita, ao contrário do que se tem lido
por aí. Além disso, também não é a primeira vez que um cineasta decide mostrar
a evolução de alguém, nos seus diversos estágios (recordemos o oscarizado Boyhood que trouxe para o grande ecrã,
em 2014, a evolução de uma família ao longo dos anos).
Posto isto, não podemos alegar que é a originalidade que faz de Moonlight o principal candidato ao Óscar de Melhor Filme, este ano. O que merece ser, realmente, apreciado nesta adaptação cinematográfica é a entrega e desempenho do seu elenco, bem como o realismo que subjaz a cada cena. Trata-se, de facto, de uma história bem contada, de tal forma que conseguimos sentir algumas vezes que, ao luar, os rapazes negros parecem mesmo azuis.
Moonlight, com o seu quê de positivo e de negativo, marca, sem dúvida, 2017. Aliás, Jenkins não podia ter trazido o filme em melhor altura. Afinal, como tem sido falado, parece haver uma vontade desmesurada, por parte da Academia, de pedir perdão pelos "Oscars so White" do ano passado. O que me entristece quando falo deste filme é a imagem que me surge, de forma imediata e sem a devida autorização, na mente: vejo Hollywood a mirar Moonlight e a exclamar "um filme só de negros? Veio mesmo a calhar!".
Termino com a esperança de que haja bom senso e rigor na entrega dos Óscares 2017. É disso que o mundo precisa. No cinema e fora dele.
Posto isto, não podemos alegar que é a originalidade que faz de Moonlight o principal candidato ao Óscar de Melhor Filme, este ano. O que merece ser, realmente, apreciado nesta adaptação cinematográfica é a entrega e desempenho do seu elenco, bem como o realismo que subjaz a cada cena. Trata-se, de facto, de uma história bem contada, de tal forma que conseguimos sentir algumas vezes que, ao luar, os rapazes negros parecem mesmo azuis.
Moonlight, com o seu quê de positivo e de negativo, marca, sem dúvida, 2017. Aliás, Jenkins não podia ter trazido o filme em melhor altura. Afinal, como tem sido falado, parece haver uma vontade desmesurada, por parte da Academia, de pedir perdão pelos "Oscars so White" do ano passado. O que me entristece quando falo deste filme é a imagem que me surge, de forma imediata e sem a devida autorização, na mente: vejo Hollywood a mirar Moonlight e a exclamar "um filme só de negros? Veio mesmo a calhar!".
Termino com a esperança de que haja bom senso e rigor na entrega dos Óscares 2017. É disso que o mundo precisa. No cinema e fora dele.
Sem comentários:
Enviar um comentário